sábado, 16 de maio de 2009

Coluna DIVERSUS - Afro-X lança livro sobre sua trajetória

Ed. 03/2009.

Conheci pessoalmente o Afro-X em 2006, exatamente, quatro anos depois dele ter cumprido pena no extinto Carandiru. A entrevista aconteceu no estúdio do rapper e a matéria seria seria exibida no “Especial Notícias” da TV da Gente. O rapper, que estava lançando o álbum “O Regenerado”, durante duas horas falou abertamente sobre os dias difíceis de encarceramento, sobre seu companheiro Dexter com quem formou o Grupo de Rap “509-E”, que na verdade era o número da cela que dividia com o amigo de infância. Isso mesmo, “milagrosamente” eles se reencontraram dentro da prisão para surpresa dos dois, no mesmo “aposento”. Em 1994, aos 21 anos, Cristian de Souza Augusto (seu nome) tinha sido condenado por assalto à mão armada.

Ele respondeu todas as minhas perguntas, fez críticas revelações e falou de seus projetos. Ainda em liberdade condicional contou que já estava forçando a porta de reinserção na sociedade. Naquela época ele já havia criado o seu próprio selo fonográfico, um estúdio, uma empresa de prestação de serviços e se tornado um líder social e comunitário através da música.
Por sinal, foi a música sua forte aliada para a tal regeneração. Eu não tive dúvidas, estava defronte a um ser humano regenerado, com uma história de vida que refletia a de tantos jovens das periferias de São Paulo, maioria negra e pobre. Ele disse: “As referências que tinha na rua eram do pessoal que praticava negócios ilícitos, que eram respeitados porque demonstravam poder com a grana que tinham", afirmou Afro-X. Tudo fruto do crime.
Editei a matéria e coloquei no ar um dos melhores trabalhos que já fiz como jornalista e repórter, e que agregou mais valor sobre uma cidadã que, infelizmente, reconhece como “falido” o sistema carcerário, as leis penais, a segurança pública e os direitos humanos no Brasil. Um quadro que com certeza só se reverterá com maior investimento em políticas públicas reparatórias e ações afirmativas (saúde, educação, cultura, emprego e igualdade de oportunidade).
De lá para cá, tenho acompanhado a carreira do Afro-X e acreditado que só muita determinação, atitude e fé regenera uma pessoa que consegue escapar da apropriação do crime.
Temos então um Afro-X anunciando sua nova obra, mais um capítulo de sua vida, o livro “Ex-157 - A História que a Mídia Desconhece” (192 págs., R$ 24). Patrocinada pela Petrobras e com prefácios assinados pelos jornalistas Caco Barcellos e Gilberto Dimenstein.
Desta vez, 157 é referência ao artigo do Código Penal que aborda o delito de assalto a mão armada, que o levou à prisão. O contexto convida o leitor a conhecer um novo universo, a história que a mídia desconhece da vida real de drama, suor, sangue, lágrimas, tragégia, descaso, omissão, luta, persistência, até a glória. Analisem, julguem mas partindo-se do princípio que ninguém nasce com uma arma na mão, todo mundo merece uma oportunidade. Mas muitas vezes o ser humano para encobrir suas imperfeições cobra a perfeição de seu próximo.
Felizmente essa experiência no crime teve um final feliz, ao contrário da estatística alarmante do 4C: Crime, cadeia, cadeira de rodas ou cemitério. Hoje, convertido à religião evangélica, dedica-se a divulgar suas músicas e conscientizar os jovens, principalmente os mais carentes, sobre a criminalidade.
Amantes do hip hop aguardem! Em junho, Afro-X pretende lançar o CD de inéditas “Das Ruas para o Mundo” e, em julho, o álbum gospel “Soul Livre”.

EU RECOMENDO !

Livro: Ex-157 - A História que a Mídia Desconhece (192 págs., R$ 24). Autobriografia do rapper brasileiro Afro-X.


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