quinta-feira, 23 de junho de 2022

Ato público em defesa do Quilombo Saracura será dia 2 de julho em frente as obras do metrô no Bixiga

O coletivo Mobiliza Saracura Vai-Vai lançou nesta quinta-feira (23) um manifesto, em defesa do Sítio Arqueológico encontrado recentemente no local da construção da Linha 6 - Laranja do metrô, no bairro do Bixiga. O movimento quer a paralisação imediata da obra, para garantia da preservação do patrimônio encontrado. O documento, assinado até o momento por quase uma centena de entidades do bairro e da cidade, além de coletivos da comunidade científica, convoca ato para o próximo dia 2 de julho, com concentração às 10h no local da futura estação de metrô,  na Rua Dr. Plínio Barreto, entre as ruas Manuel Dutra e Dr. Lourenço Granto. O objetivo é chamar a atenção para um tema de profundo impacto para a população negra e para a cidadania paulistana e brasileira.
Foto: Elton Santana "Queremos o metrô no nosso bairro, mas não deixaremos a história do Saracura, do Bixiga e do povo negro ser apagada", explica o documento, destacando que: "a própria empresa de arqueologia contratada pela concessionária, que toca a obra, afirma que a possibilidade de destruição é "certa", devido às obras". Por isso, os especialistas recomendam um projeto de resgate ecológico".  Além disso o movimento reivindica a troca do nome da futura Estação 14 Bis para Estação Saracura/Vai-Vai. "A praça em frente à futura estação já homenageia Santos Dumont e o 14 Bis. Mas a origem negra e rebelde do bairro, que recebeu de braços abertos os imigrantes italianos, vive reiteradas tentativas de apagamento". Quilombo Saracura e Estação Saracura/Vai-Vai Em 9 de outubro de 1907, uma crônica do jornal Correio Paulistano descrevia assim a região do vale do rio Saracura, no Bixiga: "É um pedaço da África. As relíquias da pobre raça, impellida (sic) pela civilização cosmopolita que invadiu a cidade depois de 88, foi dar alli naquelas furnas. Uma linha de casebres borda as margens do riacho". Passados 115 anos, a escavação para a construção da linha 6-Laranja do metrô encontrou vestígios que comprovam a ocupação da população negra naquele lugar. Os achados motivaram o registro no Iphan de sítio arqueológico classificado como de alta relevância pela equipe técnica. "Trata-se de uma pequena área com vestígios arqueológicos, de transição do século XIX para o XX e primeira metade do XX, localizada às margens do córrego Saracura", informa o cadastro de abril de 2022 (página 43 do projeto de resgate arqueológico feito pela empresa contratada pelo metrô). A área em que os vestígios foram encontrados é apontada há décadas por pesquisadores como o Quilombo Saracura, comunidade do século XIX que deu origem ao bairro do Bixiga. Nesta região nasceu, em 1930, o Cordão Vae-Vae, continuidade dessa resistência negra – as referências ao Quilombo são constantes nos sambas da agremiação. Em 2021, a quadra da escola foi deslocada para novo endereço no bairro em virtude das obras do metrô. Da compreensão do valor desses achados para o direito à memória, à terra e à presença da população negra no bairro e na cidade, o Movimento Estação Saracura Vai-Vai se formou para lutar pela preservação deste sítio, indo aos órgãos responsáveis cobrar a formalização do compromisso. Composto por moradores, sambistas, pesquisadores, militantes negros, o movimento atua pela paralisação da obra até que seja definido um projeto de preservação; por um projeto de educação patrimonial e um memorial no local; pela mudança do nome da estação do metrô de 14 Bis para Saracura Vai-Vai; e pela permanência da população negra na região, de forma que a chegada do transporte não seja agente de gentrificação. O movimento deseja o metrô no bairro, mas quer que o território seja respeitado. "Eu nasci, cresci e tive meus três filhos naquele lugar. Onde era a quadra da Vai-Vai tinha uma fonte e, quando menino, tomei muito banho por ali. Na Saracura Pequena, nas margens do rio, as pretas velhas iam lavar roupa", lembra o jornalista Fernando Penteado, 75, Embaixador Mestre do Samba Paulistano e sambista da Velha Guarda Musical do Vai-Vai, membro de uma das famílias mais antigas do bairro e neto de Fredericão, um dos fundadores da agremiação do Bixiga. “A gente resistiu 50 anos na rua São Vicente, há tempos queriam nos tirar de lá. Só que com o metrô não teve como brigar", lamenta ele, que tem participado do movimento confiante de que ainda há tempo de recuperar as memórias negras do bairro. "Temos que continuar resistindo pela nossa ancestralidade e para que reconheçam que ali sempre foi o Quilombo. Quem vai contar nossa história depois que o metrô chegar?", questiona. A historiadora e doutoranda em arqueologia Marília Calazans, também integrante do movimento, destaca que "o trabalho da arqueologia, apropriado pela comunidade, tem uma potência de transformação social incrível, de mudança radical da maneira com que a gente se relaciona com nosso território e passado, e consequentemente com presente e futuro". Acompanhe: @estacaosaracuravaivai Para informações e agendamento de entrevistas: estacaosaracuravaivai@gmail.com

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Quilombo Saracura: Movimento Saracura-Vai-Vai quer que o IPHAN reconheça vestígios achados nas obras do metrô no bairro do Bixiga

Texto: Claudia Alexandre/Portal Áfricas A primeira reunião do Movimento Estação Saracura-Vai-Vai foi realizada na noite de 13 de maio, no MUMBI – Museu Memória do Bixiga, com a participação de mais de 60 pessoas, presencialmente e on-line.  Entre as organizações representadas estavam Uneafro, Peregun, Cojira-SP, Unafro, Escola de Samba Vai-Vai, Marcha de Mulheres Negras, MNU, MSTC, Instituto Tebas, Movimento da Capela dos Aflitos, Ojú Obinrín – Observatório de Mulheres Negras, mandatos da bancada feminista, Érica Hilton, Leci Brandão, Juliana Cardoso, Luana Alves e Toninho Vespoli, entre outros.  
Foto: Desfile do Cordão Vai-Vai, em fevereiro de 1966. Arquivo/Vai-Vai A iniciativa questiona o andamento da obra de construção da Estação 14 Bis, da Linha 6-Laranja do metrô, na área reconhecida como Sítio Arqueológico Histórico Saracura-14 Bis. No local foram encontrados materiais que estão associados às ocupações negras do início do século 20 (garrafas, louças, entre outros). Parte dos vestígios foram achados entre as ruas Dr. Lourenço Granato e Manoel Dura, próximo ao local onde estava instalada há 50 anos, a sede da Escola de Samba Vai-Vai. A Vai-Vai foi retirada da Rua São Vicente, 276, esquina com a Dr. Lourenço Granato, em novembro de 2021, após um acordo com a concessionária do metrô.  O problema é que o Iphan, baseado em um relatório de impacto ambiental da obra, tem afirmado que os “vestígios arqueológicos” seriam recentes, consequência do aterramento do córrego Saracura e não remetem ao quilombo. De acordo com o arqueólogo Alessandro Luís Lopes de Lima, “a Saracura possui uma longa história de no mínimo dois séculos, surgiu autônoma e se constituiu uma comunidade remanescente de quilombo durante o século 20. Há documentos afirmando a presença de quilombolas desde o início do século 20. Qualquer coisa encontrada ali, faz parte da história dessa população”, afirmou. O principal objetivo é que as obras sejam paralisadas até que a Linha Uni, concessionária da Linha 6-Laranja e IPHAN se posicionem sobre as considerações emitidas pela empresa A Lasca, que realizou o monitoramento arqueológico na área que compreende a Praça 14 Bis e a futura Estação 14 Bis. A Linha 6-Laranja é um consórcio privado, cuja acionista majoritária é a empresa espanhola Acciona. No relatório de impacto ambiental emitido em março de 2021, a empresa confirma que no local foram achados “vestígios arqueológicos”, mesmo assim obras estão em andamento. Na pauta de mobilização estão incluídas a construção de um parecer reivindicando o Sítio Arqueológico do Quilombo Saracura, questionando a dubiedade da análise da empresa A Lasca, que assina o “Projeto de Resgate Arqueológico Sítio Saracura/14 bis”, enviado ao Iphan;   um Manifesto Estação Saracura/Vai-Vai, reivindicando inclusive a alteração do nome da estação do metrô, prevista para ser Estação 14 Bis; além do desenvolvimento de um portal e organização de material audiovisual do Movimento Estação Saracura Vai-Vai. O grupo também contará com o apoio de uma comissão de representação judicial. Para reportagem do Guia Negro, publicada no último dia 13 de maio,  o Iphan respondeu que “o Sítio Saracura-14 Bis-Estação está devidamente cadastrado no Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão e que pesquisas arqueológicas estão sendo desenvolvidas por empresa de consultoria devidamente autorizada, contratada pelo consórcio, no referido sítio arqueológico”.

Estreia do mini-doc Casé Angatu na Capela dos Aflitos será transmitida pelo Canal Alma Preta (youtube) dia 22 de junho, 20h

Na próxima quarta-feira, dia 22, às 20 h, estreia com transmissão pelo Canal Alma Preta Jornalismo (Youtube), o mini doc Casé Angatu na Capela dos Aflitos (2022, 24 minutos, 1080p; legendas em português), produzido pelo historiador Casé Angatu Xukuru Tupinambá em parceria com a União dos Amigos da Capela dos Aflitos e Esquisito Filmes. O enredo tem como tema o debate atual sobre o pagamento da história e de registros sobre territórios indígenas e negros das narrativas sobre a formação da capital paulista.   Após a exibição do filme Casé participa de uma roda de conversa virtual que terá como tema "O Bairro Paulistano da Liberdade: Lugar de Memória Negro-Indígena", com mediação da jornalista e pesquisadora de tradições afro-brasileiras, Cláudia Alexandre e participação de Jaíra Potï (artista, diretora executiva do CPBrazil), Abilio Ferreira (escritor, coordenador do Instituto Tebas de Educação e Cultura) e "Lúcia Juliani* (arqueóloga, sócia diretora da A Lasca Arqueologia).
Capela dos Aflitos no bairro da Liberdade MINI-DOC CASÉ ANGATU NA CAPELA DOS AFLITOS, (2022, 24 minutos, 1080p; legendas em português) Sinopse: Em abril de 2022, após mais de dois anos de interrupção devido à pandemia, o historiador indígena Casé Angatu, autor do livro “Nem tudo era italiano”, voltou a realizar na cidade de São Paulo o curso de extensão Indígenas Identidades Paulistanas. O curso - a Îe’engara - consistiu em rodas de conversas presenciais com cantoria rameada, sendo finalizada em 9 de abril com uma caminhada pelo Centro de São Paulo. Na Capela dos Aflitos (bairro da Liberdade), Casé explicou porque a considera um marco da resistência indígena, negro e popular em Piratininga (São Paulo). Ficha técnica:  Direção: Alexandre Kishimoto e Casé Angatu; Câmera, edição e finalização: Alexandre Kishimoto; Som: José Antônio Alves; Depoimentos: Casé Angatu, Eliz Alves e Wesley Vieira; Produção: Eliz Alves, Wesley Vieira e José Antônio Alves; Uma produção: Casé Angatu, União dos Amigos da Capela dos Aflitos e Esquisito Filmes;