quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

STF voltará a julgar abate afro-religioso dia 28 de março de 2019

Após quatro meses, o Supremo Tribunal Federal confirmou para o dia 28 de março de 2019, às 14 horas, a continuidade do julgamento da constitucionalidade dos rituais de abate religioso por parte das religiões afro-brasileiras. No dia 9 de agosto, a ação recebeu dois votos a favor e pela manutenção do exercício da liberdade religiosa, dos ministros Marco Aurélio e Luiz Edson Fachin, mas Alexandre de Moraes decidiu pedir vista, adiando a sentença. O abate de animais, parte de cadeia alimentar das religiões de matriz africana, também é praticado em outras denominações como judaísmo e islamismo, por isso os advogados de defesa também chamam a atenção para o racismo religioso caraterizado pelo recurso originado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. “A vida da galinha da macumba é mais importante do que a vida dos jovens negros da periferia”, ressaltou ao ocupar a tribuna o Dr. Hédio Silva Junior, jurista que representa a União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil, ao lado dos advogados Antonio Basílio Filho e Jader Freire de Macedo Junior. O ministro Marco Aurélio ponderou que não faz sentido “proibir religiões de sacrificar animais em ritos se a sociedade consome diariamente carnes de animais”. Além disso, ao falar em plenário Dr, Hédio também argumentou que a acusação de maus tratos não se confirma, já que nos rituais os abates são realizados sem violência e não podem ser comparados com a crueldade industrializada pelo segmento frigorífico. “Essa discussão é sobre as religiões africanas, onde prevalece a cor negra. É assim que coisa de preto é tratada no Brasil. Ou seja, a vida de preto não tem valor. Mas a galinha da religião de negro tem que ser radicalmente protegida.", enfatizou Hédio Silva. Em outubro, o ministro Alexandre de Moraes recebeu em seu gabinete os advogados Hédio Silva Júnior, Antonio Basílio e Jader Freire, que foram à Brasília entregar um novo documento, do Conselho Nacional de Procuradores Gerais de Justiça, que aprovou uma recomendação favorável ao abate religioso, em setembro. “Esse documento vai auxiliar na avaliação da ação. Mas de qualquer forma nossa expectativa é favorável e apostamos em uma vitória no dia 28 de março”, concluiu Dr. Hédio.

domingo, 15 de julho de 2018

Claudia Alexandre fala ao Tramas Culturais

Aula-palestra de Museologia da UFBA com a pesquisadora Claudia Alexandre abordou Práticas afro-religiosas da Escola de Samba Vai-Vai

Falar sobre a importância da valorização do patrimônio imaterial na perspectiva da Ciência da Religião foi um dos objetivos da aula especial que eu tive o prazer de ministrar para a turma do Programa de Museologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), em Salvador, no dia 20 de junho de 2018, para as disciplinas de Preservação de Patrimônios, a convite das Dras. Graça Teixeira e Rita de Cássia Maia. Além de falar da minha vivência profissional junto ao samba e escolas de samba de São Paulo, o objetivo foi compartilhar dados da pesquisa do meu mestrado na PUC-SP (2017): "Exu e Ogum no Terreiro de Samba, um estudo sobre a religiosidade da Escola de Samba Vai-Vai", que mantém a tradição de práticas do candomblé em devoção aos orixás patronos, além de um calendário de festividades afro-católicas, como as festas de São Cosme e Damião e a Procissão de São Jorge e Feijoada de Ogum.
Falei sobre a devoção que marca a história da comunidade negra do bairro do Bexiga e remete ao território negro da região central da capital paulista, onde foram localizados antigos quilombos de escravos. Na sede da Escola de Samba Vai-Vai além das festas aos orixás Exu e Ogum, marcadas por rituais e oferendas, é possível encontrar imagens de santos, altares, oratórios e objetos sagrados associados aos orixás, que comprovam uma estreita relação, principalmente, com as práticas do Candomblé. Um diálogo complexo que relaciona rituais sagrados (afro-religiosos) com os rituais profanos, mantidos tradicionalmente por uma escola de samba, que já mantém seus fundamentos como por exemplo, a bandeira (pavilhão), a bateria, a porta-bandeira e o mestre-sala e a Ala das Baianas. As práticas afro-religiosas na Vai-Vai são realizadas sob a responsabilidade de um sacerdote, atualmente o babalorixá Pai Francisco de Oxum, que assumiu o cargo em 2010, e inclui nas festividades xirês com toques de atabaque, assim como se realizam em terreiros de Candomblé. Uma tradição afro-brasileira única no universo das escolas de samba e do carnaval de São Paulo, que remete à fundação da escola de samba. Lembando que a Vai-Vai surge no contexto carnavalesco em 1930, como cordão e se transforma em escola de samba em 1972. É reconhecida como a maior agremiação carnavalesca negra de São Paulo.

Mulheres Negras: Mulheres do Samba e do Axé

Mães do Samba e do Axé: de Ciata de Oxum às Tias Baianas Paulistas Por Claudia Alexandre claudiaalexandre.jornalista@gmail.com instagram: @claualex16 Quando o samba alcançou o centenário, já como patrimônio imaterial da cultura brasileira, uma iniciativa colocou no centro das celebrações a importância das mulheres negras nesta trajetória marcada não só por episódios de resistência, perseguição e repressão, mas também de força identitária, de solidariedade e de reordenamento social. O projeto Empoderadas do Samba, que tive a oportunidade de conhecer em 2016, durante as comemorações dos 100 Anos do Samba, em São Paulo, ganhou ainda mais importância ao provocar a reescrita de mais uma parte da história que precisa ser contada por vozes negras. Pensar a presença da mulher no universo do samba é vasculhar o acervo da cultura afro-brasileira e comprovar, por exemplo, como o imaginário da sociedade machista, sexista e racista, desde o período colonial, agiu para apagar o protagonismo e a herança destas, que foram responsáveis por construir poderosas redes de sociabilidade e elos de afetividade, que vamos encontrar até hoje nos terreiros e nas escolas de samba. O ambiente das rodas de samba, dos batuques e do ajuntamento solidário nunca foi exclusividade masculina. A própria roda é feminina, a circularidade está na função geradora, nos seios que alimenta, na roda da saia, na gira, no xirê e na possibilidade de retorno pelos braços da mãe preta. Helena Theodoro (1996, p. 34) em seu livro Mito e Espiritualidade: mulheres negras, diz que a mulher negra foi na escravidão e nos primeiros tempos de liberdade a viga mestra da família e da comunidade negra. “Neste período inicial de liberdade, as mulheres foram forçadas a arcar com o sustento moral e com a subsistência dos demais”. Mesmo assim, nos dias de hoje, vivendo realidades ainda desiguais, enfrentam narrativas que não consideram o seu protagonismo na vida social, na arte, na religião e na própria cultura. Mas, é na história da constituição do samba, com mais de 100 anos, que vamos encontrar um modelo, que nos mostra que sem a presença da mulher negra teríamos muito pouco pra contar. A essência feminina no samba manteve em perfeito diálogo o sagrado e o profano, enlaçando práticas rituais e festivas, num esforço contínuo para manter juntos passado e presente de uma matriz africana. Localizando o viver e a presença de mulheres negras no Rio de Janeiro, no período que antecede a formação das escolas de samba, entre 1890 e 1930, o pesquisador Wallace Lopes Silva (2004) escreveu Praças Negras: territórios e fronteiras nas margens da Pequena África de Tia Ciata, analisando a maneira como desde o início os agrupamentos foram regidos por uma herança matriarcal negro-africana. Tia Ciata de Oxum que é personagem famosa do samba, sempre descrita como uma mulher de personalidade forte, líder religiosa e política, tornou-se também uma espécie de ícone, para o surgimento das escolas de samba, como marco desta manifestação cultural, que sempre uniu samba e religiões afro-brasileiras. O nome próprio era Hilária Batista de Almeida (1854 – 1924). Nascida em Santo Amaro da Purificação (Recôncavo da Bahia), chegou ao Rio de Janeiro com 22 anos, já iniciada para a orixá Oxum, pelo africano Bambochê (Quimbambochê), no terreiro Ilê Iyá Nassô (Casa Branca do Engenho Velho). Bambochê era pai-de-santo de mãe Aninha (Eugênia Ana Santos), líder do Ilê Opó Afonjá, um dos mais tradicionais candomblés nagô-baiano (dissidente da Casa Branca). Teve muitos filhos, uns dizem 15 outros 26 filhos . Ela podia ser Ciata, Siata, Aciata, Asseata ou Assiata, conforme é citada em diversos sambas, prosas e livros. Embora a historiografia tente mostrar Ciata como uma líder solitária das “tias baianas”, é justo lembrar de nomes como Tia Tereza, Tia Sadata, Tia Carmem, Tia Davina, Tia Perpétua, Tia Veridiana, Tia Calu Boneca, Tia Maria Amélia, Tia Rosa Olé, Tia Gracinda, Tia Tomásia, Tia Fé, Tia Bibiana, entre outras. Eram mães, tias, avós, madrinhas, sacerdotisas, benzedeiras criando uma o filho da outra, acolhendo os conterrâneos e parentes que chegavam em massa ao Rio de Janeiro no início do século XIX, povoando com o jeito afro-baiano os territórios e praças negras, o que tornou famosa a região de Gamboa, Saúde (Pedra do Sal) e Santo Cristo, além de Cidade Nova e Praça Onze, local que ficou conhecido como Pequena África. A solidariedade das negras baianas, abrindo as portas das casas, refez o sentido de família, abriu novos canais de sociabilidade, de comunicação e afeto, resultando nas primeiras formas de poder e protagonismo da mulher negra na sociedade brasileira. Nestes espaços o sentido de sagrado e profano não era de peças separadas, mas sim de forças que dependiam uma da outra. Os terreiros eram simultaneamente locais de residência, hospedagem, encontros sociais, políticos e religiosos. Dentro das casas e também nos quintais de terra batida exerciam-se múltiplas atividades como batuques, candomblés, sambas, culinária, blocos carnavalescos e ainda vários ofícios de subsistência. O que privilegiava a casa de Tia Ciata, como ambiente propício para a organização das entidades carnavalescas e composições de sambas, eram os frequentadores famosos - artistas, jornalistas e políticos. Por ali passaram Donga, João da Baiana, Pixinguinha, Sinhô, Caninha, Heitor dos Prazeres, além de jornalistas e intelectuais como João do Rio, Manuel Bandeira, Mário de Andrade e o cronista Francisco Guimarães (Vagalume), um dos responsáveis pela divulgação do que acontecia no interior das concorridas rodas de samba e cultos religiosos, que às vezes demorava até cinco dias para acabar. De acordo com a literatura, ali teria sido composto, o primeiro samba registrado e gravado em disco, “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, em 1916. Aliás, o surgimento do primeiro samba tornou-se um mito pela polêmica causada em torno da autoria, do registro e da precedência. Até tia Ciata teria reclamado autoria. Ciata era festeira, quituteira, costureira, bordadeira e, além de comerciante, também cantava e sambava como poucas. Roberto Moura (1983) em Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro destaca ainda a destreza com que ela dançava para os orixás, durante as cerimônias religiosas. Contam que foi o orixá desta baiana quem curou uma ferida da perna do então presidente Wenceslau Brás ( 1868-1966), que governou entre 1914 e 1918. A partir deste fato, ela teria conseguido um emprego no serviço público, para o marido e afastado a perseguição policial de perto de seu terreiro, já que na época a invasão aos cultos negros, com violência e quebra-quebra era constante. Fora dos festejos religiosos, os grupos negros não podiam brincar no carnaval sem autorização das autoridades. Na casa de tia Ciata os cultos aconteciam no quintal de terra batida em um barracão de madeira. Eram tradicionais as festas que patrocinava para Ibejada (São Cosme e Damião) e para Nossa Senhora da Conceição (Oxum). Foi ela também que mostrou às tias o caminho da Festa da Penha, promovida pela colônia portuguesa, em 8 de setembro (século XVIII) e depois transferida para os finais de semana de outubro. As casas das tias baianas, o carnaval popular ( largo de São Domingos e Praça Onze) e a Festa da Penha ficaram marcados como redutos de samba e devoção negra. A tradição permaneceu mesmo após a morte de Tia Ciata, em 1924, eternizada pelas alas das baianas das escolas de samba. A primeira escola de samba, fundada no Rio de Janeiro em 1928, a Deixa Falar, já em 1931, desfilou com 72 baianas. Foi um decreto em 1933, do então prefeito Pedro Ernesto, que tornou obrigatória a Ala das Baianas em todas as agremiações carnavalescas. Em agradecimento a influência religiosa das antigas mães-de-santo, que acolheram as organizações carnavalescas e; a proteção dos orixás ao samba, muitas baterias foram “batizadas” com o ritmo dedicado a um orixá. Esse diálogo entre o candomblé e as escolas de samba deixa marcas nos dois lados. As cores das escolas, por exemplo, geralmente são escolhidas em homenagem a algum orixá, geralmente o da casa de candomblé relacionada mais intimamente com a fundação da escola. As baterias das escolas tocam sempre em homenagem a um orixá, que é considerado “patrono”. A Mangueira toca pra Oxóssi, a Portela toca pra Ogum e assim por diante. Não é à toa, também que a ala das baianas é tradicional, pois faz referência às antigas mães-de-santo que, na Bahia, vestiam-se assim. Do Rio para São Paulo: as tias baianas quituteiras Em terras paulistas, a participação das mulheres negras no carnaval das agremiações carnavalescas também conta com o protagonismo da mãe, da tia e da líder religiosa. O carnaval de São Paulo, festas religiosas católicas do interior do Estado, onde se misturavam sambas e batuques. A mais famosa foi a da cidade de Pirapora do Bom Jesus, onde se reuniam um grande número de famílias negras. Os grupos até a década 30 faziam seus batuques nas celebrações ao padroeiro e influenciaram a formações dos cordões e escolas de samba da capital. Os desfiles das escolas de samba em São Paulo foram oficializados em 1967. Desde a formação do primeiro grupo negro carnavalesco, o Barra Funda, considerou-se a presença da mulher. Das funções ditas femininas – costureiras, bordadeiras, cozinheiras e benzedeiras – até como componente onde ocupavam lugares de pastora (amadoras), contrabaliza, porta-estandarte e hoje exercendo as mais variadas funções desde ritmistas, chefes de ala, diretoras, puxadoras de samba-enredo, presidentes, porta-bandeira e com lugar garantido na Ala das Baianas. Na década de 30, pelas ruas da capital era possível encontrar mulheres negras vendendo – frutas, ovos, verduras, além de exímias cozinheiras disputadas pelos deliciosos quitutes. As quituteiras, por causa do traje típico que lembrava uma baiana ou mãe de santo, ficaram conhecidas como tias baianas quituteiras. Além do comércio, trabalhavam como cozinheiras nas mansões paulistas. Em dias de folga, reuniam-se com famílias e amigos para rodas de samba e cultos religiosos, em seus quintais de terra, sempre regados à comilança. A pesquisadora Maria Aparecida Urbano, em Mães do Samba: tias baianas ou tias quituteiras, lembra nomes como os de Nhá Maria do Café, Maria Punga, Genoveva, Sinhara, Rita Cachinguelê e Maria Cabinda. As baianas da pauliceia, como aconteciam na Bahia e Rio de Janeiro, além de percorrerem as ruas vendendo frutas e guloseimas, também participavam dos cortejos religiosos, das festas populares e, inclusive, tomavam parte nas batucadas que armavam nos pátios e largos das velhas igrejas de São Paulo. As negras quituteiras, quando ouviam a batucada, pulavam alegremente no meio da roda, seguindo a cadência do samba, seguravam a barra da saia e faziam requebrados. (URBANO, 2012, p. 92) Na história do samba paulista, estão nomes de mulheres saudosas como Dona Sinhá (Camisa Verde e Banco), Dona Olimpia e Dona Iracema (Vai-Vai), e Madrinha Eunice, a fundadora da Escola de Samba Lavapés, que também mantinha seu terreiro de Quimbanda, na Baixada do Glicério. A Lavapés é ainda comandada por uma mulher, Rosemeire Marcondes, neta biológica da fundadora. O Cordão Vai-Vai, que deu origem à Escola de Samba Vai-Vai, na década de 30, fez história na região central da cidade, lugar onde samba e religião até hoje dão sentido à comunidade que mantém estreita relação com práticas do candomblé e com a Pastoral Afro, da Igreja Nossa Senhora Achiropita. Em depoimento, emocionado, Fernando Penteado, Diretor de Harmonia, membro da Velha-Guarda e filho da mais tradicional família de sambistas da Vai-Vai, conta como desde o início no Bexiga, as tias quituteiras, todas formando a Ala das Baianas, mantiveram a tradição de unir sagrado e profano, em torno do samba. A gente cantava muito e batia na palma da mão... E um bumbo no meio. Isso ia embora a noite inteira e a poeira levantava mesmo. Além da comida, era muita comida. As tias puxavam as rezas e cozinhavam. Era tudo quituteira. Eu era moleque e me lembro. Os pés todos cheios de terra. E tinha as rezas, cantava e agradecia. Na época a gente rezava e agradecia aos santos e orixás. E no samba se alguém lembrava que tinha alguém doente, a gente rezava e cantava pra pessoa. Ninguém vai pro carnaval sem pedir à benção. (ALEXANDRE, 2015) Para as mulheres que marcam a trajetória do samba paulista, a UESP – União das Escolas de Samba Paulistanas criou, em 1995, a Embaixada do Samba, incluindo o título de embaixatriz e embaixador, que representam todas as grandes mestras e grandes mestres, da Velha-Guarda. Há também um dia especial para se comemorar: 25 de novembro é o Dia Estadual das Tias Baianas Paulistas. As Alas das Baianas são reconhecidas e reverenciadas como fundamento, portanto indispensável, no terreiro de samba. As ancestrais de Tia Ciata e de todas as “tias baianas”, mantém a ligação entre o passado e o presente, reafirmando o poder feminino na história do samba das escolas de samba. Quando giram na avenida, primeiro no sentido anti-horário, vão de encontro aos orixás para pedir licença para a comunidade desfilar, quando retornam, no sentido horário, trazem a energia para a limpeza e axé para a passagem da escola. À benção às mães do samba! 1. Artigo escrito para a Coleção “Sambas Escritos: as vozes e as memórias do samba”; Editora Polén, coordenado pelo Projeto Samba Sampa/Empoderadas do Samba. Vol. 3 Massembas de Ialodês: Vozes Femininas em Roda (SP, p. 45, 2018) Referências Bibliográficas AMARAL, Rita. Xirê! O modo de crer e de viver no Candomblé. RJ: Pallas. SP: EDUC, 2002 ALEXANDRE, Claudia. Exu e Ogum no Terreiro de Samba: Um estudo sobre a religiosidade da Escola de Samba Vai-Vai. Dissertação de Mestrado. SP: PUC, 2015 THEODORO, Helena. Mito e Espiritualidade: mulheres negras. RJ: Pallas, 1996 SILVA, Wallace Lopes. Praças Negras: territórios e fronteiras nas margens da Pequena África de Tia Ciata. 2004 GOMES, Fabio. Tia Ciata. Jornalismo Cultural. São Paulo; 2009. Portal Geledés. https://www.geledes.org.br/tia-ciata/ acessado em 30/10/2017 MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro. 2ª. ed. rev. RJ: Biblioteca Carioca. 1983 URBANO, Maria Aparecida Urbano. Mães do Samba: tias baianas ou tias quituteiras. SP: Ed. Bem Estar, 2012

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Abolicionista negro Luiz Gama será tema de seminário organizado por jornalistas

Luiz Gama será tema de seminário no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Durante o evento promovido pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial será inaugurada placa que reconhece o papel atuante do abolicionista negro na imprensa paulista
Serviço Seminário Luiz Gama Jornalista Local: Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo Endereço: Auditório Wladimir Herzog – Rua Rego Freitas, 530 - sobreloja Data: 17 de maio às 19 horas Público-alvo: jornalistas, estudantes e demais interessados Atividade gratuita, sem necessidade de inscrição. Fone: 3217-6299 A COJIRA-SP – Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, órgão do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo, promoverá no próximo dia 17 de maio, das 19 às 22 horas, o Seminário Luiz Gama Jornalista, destacando o papel pioneiro e a atuação na imprensa do abolicionista negro, no processo de lutas pela assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. O evento, que vai marcar a passagem dos 130 anos da abolição do regime escravista do Brasil, terá como convidados a Professora Doutora Lígia Fonseca Ferreira e o jornalista, ator, escritor e membro da Cojira-SP, Oswaldo Faustino. A mediação será da jornalista e radialista Cinthia Gomes, que é integrante da COJIRA-SP e desenvolve pesquisa de mestrado sobre a autoria negra nos textos jornalísticos de Luiz Gama dentro do Programa de Ciência da Comunicação (ECA-USP). Durante o evento, uma placa de honra ao mérito será inaugurada no Auditório Wladimir Herzog, com o objetivo de assinalar o reconhecimento de Luiz Gama como jornalista atuante em São Paulo. Ligia Fonseca Ferreira, que organizou Luiz Gama em Primeiras Trovas Burlescas e outros poemas (Martins Fontes, 2000), trabalho pioneiro de edição do conjunto da obra poética de Gama, falará sobre o tema "A pena audaz de Luiz Gama, jornalista". Também autora do livro Com a palavra, Luiz Gama. Poemas, artigos, cartas, máximas (Imprensa Oficial, 2011), Lígia Ferreira é bacharel em Letras e Linguística pela Universidade de São Paulo, possui doutorado pela Université de Paris 3 – Sorbonne sobre vida e obra do ex-escravizado, escritor, jornalista e advogado abolicionista Luiz Gama. Tem ainda publicados vários artigos e capítulos de livros sobre o autor. Atualmente, é docente do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Autor do romance A luz de Luiz: por uma terra sem reis e sem escravos (Córrego, 2015), que define como “uma fantasia com pinceladas históricas”, o jornalista Oswaldo Faustino fará uma intervenção, após a palestra de Ligia, destacando a importância de se falar de Luiz Gama para os jovens. Integrante da Cojira SP desde sua fundação, Faustino escreveu também a biografia do escritor e compositor Nei Lopes (Selo Negro/Summus, 2009, Coleção Retratos do Brasil Negro) e o romance histórico A Legião Negra (Selo Negro/Summus, 2010). Jornalista desde 1976 atuou em rádio, TV, revistas e em vários jornais, como Folha de São Paulo e Diário Popular em que foi editor de cultura entre 1985 e 1990, e O Estado de São Paulo, em que atuou como repórter durante 26 anos. Sobre Luiz Gama Luís Gonzaga Pinto da Gama, mais conhecido como Luiz Gama nasceu em 21 de junho de 1830, na cidade de Salvador (BA). Era filho de mãe negra e pai branco, e foi vendido como escravo, pelo próprio pai, aos 10 anos de idade. Permaneceu analfabeto até os 17. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado “o maior abolicionista do Brasil”. Luiz Gama também foi orador, jornalista, escritor e é agora reconhecido como o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil. Foi um dos raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século XIX, o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro. Em São Paulo, teve diferentes profissões e posições sociais: escravo do lar, soldado, ordenança, copista, secretário, tipógrafo, jornalista, advogado, autoridade da maçonaria. Ele começou a carreira jornalística, na capital paulista, junto com o caricaturista Ângelo Agostini. Ambos fundaram, em 1864, o primeiro jornal ilustrado humorístico da cidade, intitulado Diabo Coxo. Gama ficou conhecido como advogado dos pobres e libertador dos negros. Em uma carta autobiográfica a Lúcio de Mendonça, Gama estimou que já havia libertado do cativeiro mais de 500 escravos. Gama proferiu uma frase que se tornou célebre: “O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa”. Luiz Gama faleceu em 1882, seis anos antes da sanção da Lei Áurea. E em janeiro de 2018 seu nome entrou para o Livro dos Heróis da Pátria, pela Lei Nº 13.628.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Tramas Culturais apresenta curso sobre mulheres do samba e do axé

Os encontros terão o comando da jornalista Claudia Alexandre que abordará a valorização da presença feminina e de suas vozes negras na constituição dos sambas como elemento ancestral
Foto: reprodução do livro "Escravos Brasileiros do século XIX (Christiano Jr. São Paulo - Com coordenação do Departamento de Espetáculos, a Fundação Ema Klabin vai promover mais um evento Tramas Culturais, com quatro encontros, que vão abordar a presença das mulheres na constituição do maior patrimônio cultural do Brasil: o samba. Para esta tarefa foi convidada a jornalista, radialista e mestre em Ciência da Religião, Claudia Alexandre, que há 30 anos trabalhado com esse assunto, levando o tema para os meios de comunicação e em suas pesquisas. O primeiro encontro acontece no dia 10 de maio, na sede da instituição que fica à Rua Portugal, 43, Jardim Europa (Informações: (11) 3897-3232). (Confira abaixo a programação completa). Será uma rara oportunidade de dialogar sobre o tema, vasculhando o acervo da cultura afro-brasileira, desde a chegada dos negros escravizados no Brasil até os dias de hoje, quando sobra talento e ainda temos poucos espaços para a mulher no samba. De acordo com Claudia Alexandre, a intenção é comprovar, por exemplo, como o imaginário da sociedade machista, sexista e racista, desde o período colonial, agiu em elaboradas tentativas para o apagamento do protagonismo e da herança “destas que foram determinantes para a construção de poderosas redes de sociabilidade e elos de afetividade. Evidências que permanecem até hoje nos terreiros, nas escolas de samba e como elo ancestral de diversas manifestações populares no Brasil”, disse a jornalista.. Para Claudia Alexandre é também a chance de rever a história e até os esteriótipos criados entorno do feminino negro, que contribuiu fundamentalmente para a formação sócio-política, cultural e econômica do nosso país. "Mesmo assim, nos dias de hoje, vivendo realidades ainda desiguais, enfrentam narrativas que não consideram o seu protagonismo na vida social, na arte, na religião e na própria cultura", disse. Até hoje, entorno dessas mulheres se mantém tradições, aliadas a práticas religiosas, como no Samba de Roda (Recôncavo da Bahia); Samba de Pareia ( Sergipe); Samba de Crioula (Maranhão) e Samba de caxambu (sul do Espírito Santo). “São líderes de comunidades e territórios negros, que garantem identidade, pertencimento e ainda resistem enfrentando o desprezo social”, conclui. Alguns encontros vão contar com participações especiais: Na abertura, a dançarina e professora de Danças Afro-Brasileiras, Mika Rodrigues, que fará performances sobre danças ancestrais afro-brasileiras e no encerramento o grupo Som Mulheres fará um tributo às grandes cantoras exaltando nomes como Clara Nunes, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra, entre outras. Claudia Alexandre – é mulher negra paulista, mãe, jornalista e radialista. Graduada em Comunicação Social (FIAM-SP) possui Pós-Graduação e Mestrado em Ciência da Religião (PUC-SP). É sócia-diretora da Central de Comunicação e Eventos; e apresentadora do Programa Papo de Bamba (TV Regional – Sorocaba e internet). Atualmente tem pesquisado a relação das religiões afro-brasileiras com o samba, tema de sua especialização e do mestrado em Ciência da Religião pela PUC (SP), quando abordou a religiosidade e a presença do Candomblé na Escola de Samba Vai-Vai. Foi Assessora Especial da Fundação Cultural Palmares (Ministério da Cultura); Assessora de Imprensa da UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas); Assessora de Comunicação do Museu Afro-Brasil (Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo) e Diretora de Comunicação da Prefeitura de Guarulhos (SP). Gestora em Administração de Eventos (SENAC-SP) foi docente da Faculdade HOTEC-SP (Produção de Eventos Culturais e Esportivos; e Cultura e Entretenimento). Atuou como repórter de rádio e apresentadora de TV, com atuação especial em programas voltados à cultura do samba e do carnaval, em São Paulo. Em 2014 foi comentarista dos Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo, pelo CANAL VIVA (Rede Globo). Na década de 90, alcançou reconhecido sucesso como locutora da Radio Transcontinental FM (Mogi das Cruzes – SP), a primeira emissora da cidade com programação 24 horas de samba. É autora dos livros: “Vai-Vai, Orgulho da Saracura” (Editora Bellini, 2002) e “Vivaldo de Logunedé – Um pouco do Candomblé na Baixada Santista” (SeCult Santos, 2006). Realiza pesquisas com interesse na permanência de elementos da religiosidade de matriz africana em manifestações da cultura popular, como por exemplo, nas escolas de samba Programação 10 de maio de 2018 - A mulher negra como agente de construção e permanência de redes de solidariedade e sociabilidades do povo negro desde o século XVI no Brasil. Intervenção: performance percussiva e de dança. 24 de maio de 2018 - Dos terreiros sagrados ao samba de roda: O protagonismo feminino de mulheres negras na manutenção das tradições da religiosidade africana em diálogo com as manifestações festivas. Intervenção: Discussão sobre o DOC Mulheres do Samba de Roda (Rosildo do Rosário e Luciana Barreto) 07 de junho de 2018 - A Pequena África, como a capital feminina do samba, no Rio de Janeiro do Século XIX. Intervenção: DOC Tias Baianas Paulistas Batuque Memorável (Pesquisador: Carlos Antônio Moreira Gomes - 11’) 21 de junho de 2018 - Do primeiro samba gravado à marginalização da mulher negra: transformações e negociações no mercado da música nacional. Intervenção: Grupo Som Mulheres (SP).

sexta-feira, 6 de abril de 2018

TRF-SP nega recurso da Record TV e emissoras darão direito de resposta às religiões afro-brasileiras

O Tribunal Regional Federal de São Paulo negou o recurso da Rede Record de TV, que tentou novamente escapar de cumprir a decisão de dar direito de resposta às religiões afro-brasileiras, por ofensas exibidas em programas das emissoras da rede. O julgamento foi realizado na tarde desta quinta-feira, dia 5 de abril, em São Paulo, em ação contra a TV Record e Rede Mulher pelos ataques que sofreram os adeptos das Religiões Afro Brasileiras, pelos praticantes da Igreja universal do Reino de Deus. O julgamento reuniu cerca de 150 lideranças religiosas que foram dignamente recepcionadas no Auditório do 25º andar do TRF – Tribunal Regional Federal, na Av. Paulista nº 1.842 - Torre Sul - São Paulo - SP, onde puderam assistir nos telões, a transmissão do julgamento que foi unânime a favor das reclamantes. Os programas da rede referem-se aos sacerdotes e sacerdotisas como "pais e mães de encosto, de demônios e representantes do mal". A sentença assegurou, na grade de programação das emissoras, 16 horas de direito de resposta, onde serão exibidos conteúdos sobre a diversidade e cultura afro brasileira, desmistificando a negatividade às vistas da sociedade, a elas imputadas. Os advogados Dr. Hédio Silva Jr., Dr. Antônio Basílio Filho e Dr. Jader Freire de Macedo Junior representaram as tradições religiosas em nome do CEERT e do INTECAB, autores da ação e o Dr. Hédio Silva Júnior fez a sustentação oral que garantiu o cumprimento da sentença. Esta data entra para a história como exemplo de Direito à Liberdade Religiosa e Respeito Humano a ser seguido. Agora será aguardada a publicação do acórdão. A emissora poderá recorrer.

domingo, 1 de abril de 2018

Claudia Alexandre e Marcio Telles apresentam evento da Revista Raça

O lançamento da edição do mês de março da Revista Raça foi marcado por uma emocionante homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada no início do mês junto com seu motorista Anderson Gomes. Tive o prazer de conduzir a cerimônia ao lado do ator e coreógrafo Márcio Telles. A recepção, com direção do jornalista e editor Mauricio Pestana foi realizada no auditório do MIS (Museu da Imagem e do Som). A Raça traz como matéria de capa uma matéria especial sobre mulheres no poder público. Foi um prazer assinar esta entrevista com as três mulheres negras que comandam, respectivamente, em Salvador, São Paulo e Minas Gerais secretarias de governo: Olivia Santana ( Trabalho e Esporte); coronel Helena Reis (Casa Militar) e Macaé Evaristo (Educação). Elas são o poder!!!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Intolerância religiosa: TRF-SP julgará dia 5 de abril recurso da sentença contra TV Record movido pelas religiões afro

Direito de resposta ganho há 14 anos por ofensas contra a Umbanda e Candomblé ainda não foi cumprido pelas emissoras da Rede Record TV e terá audiência no Tribunal Regional Federal de São Paulo
Foto: Dr. Hédio, Dr. Básilio e Dr. Jáder na defesa pelo direito de resposta Dia: 5 de abril de 2018 äs 14 horas Local: TRF-SP – Avenida Paulista, 1842 – Torre Sul – 16º andar Está marcado para o próximo dia 5 de abril, às 14 horas, o julgamento do recurso da Rede Record contra a sentença que assegurou, em 2015, o Direito de Resposta às religiões afro-brasileiras. A audiência será na sede do TRF (Tribunal Regional Federal), Avenida Paulista, 1842, 16º andar, na Sala de Sessões da 6ª. Turma. O caso defendido pelo jurista e ex-secretário da Justiça e Cidadânia do Estado de São Paulo, Dr. Hédio Silva Jr tem como signatários o CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades) e o INTECAB (Instituto da Tradição e Cultura Afro-Brasileira). Uma grande mobilização está sendo realizada com a participação de centenas de organizações e liderança de religiões de matriz africana no Brasil, em encontros, através de coletivos e pelas redes sociais. A ação foi motivada pela exibição por parte das emissoras do grupo Record TV (TV Record e extinta Rede Mulher) de conteúdos ofensivos que iam ao ar no programa “Mistérios” e no quadro “Sessão de Descarrego”, usando termos considerados pejorativos, como encosto, demônios, espírito do mal, bruxaria e feitiçaria, além do uso incorreto da palavra “macumba”. Em abril de 2015, o Juíz da 25ª. Vara Federal Cível de São Paulo determinou que as emissoras veiculassem, como direito de resposta, 16 horas de programação, durante dezesseis dias consecutivos, com duração de uma hora cada, em horário nobre, com três chamadas diárias, com conteúdo produzido pelos reclamantes e custeados pela Record TV, que tem recorrido da setença. Hédio Silva Jr e sua equipe, os advogados Dr. Antonio Basílio Filho e Dr. Jader Freire de Macedo Junior, têm argumentado sobre o prejuízo da sentença favorável ainda não ter sido cumprida, após 14 anos. “Dentre as consequências da veiculação desses discursos infames e criminosos destacamos: o apedrejamento de crianças fiéis da Umbanda e Candomblé; a profanação de templos e símbolos religiosos e a violência física e moral contra seguidores das religiões afro-brasileiras”, afirmou o jurista. Dr. Hédio ressalta a importância da mobilização e sensibilização da sociedade para o combate à intolerância religiosa e contra a incitação ao ódio religioso, principalmente vindo de concessionárias de serviço público, utilizando um bem público para propagar essas ofensas e a própria violência, quando muitas vezes credita às religiões afro-brasileiras a responsabilidade pelas mazelas sociais, pois “Os telespectadores foram levados a acreditar que se atacarem os fiéis e os símbolos das religiões afro-brasileiras terão seu emprego de volta, acesso a casa própria, ficarão ricos do dia para noite, dentre outras vantagens e benefícios”, concluiu. DR. HÉDIO SILVA JR. é advogado e ativista histórico. Foi secretário da Justiça do Estado de São Paulo e é um dos mais respeitados defensores da cultura e das religiões de matrizes africanas. Em 2016, foi homenageado com o Troféu Asé Isesé (A força dos nossos ancestrais) conferido pelo Centro Cultural Africano à lideranças religiosas e personalidades públicas que se destacam na luta contra a intolerância religiosa.