sexta-feira, 8 de junho de 2012

PAPO DE BAMBA: "Jabá" nas rádios: uma prática que derruba a qualidade da música na mídia

Comemorando 20 anos de carreira como profissional de radio, atuando como repórter, redatora e locutora, sendo que boa parte deste caminho como locutora em rádios musicais, as FMs, fui surpreendida um dia desses pelo amigo e prestigiado radialista Moisés da Rocha, que foi meu entrevistado no Programa Papo de Bamba (Clic TV - TV UOL), com um dos comentários mais corajosos sobre a má qualidade de sambas que vêm sendo executados pelas rádios, principalmente em São Paulo. O grande bamba do programa "O Samba Pede Passagem" da Radio USP FM e Capital AM ao responder minha pergunta sobre como analisava as novas produções do samba e do pagode me respondeu sem "papas na língua", que o grande problema da falta de renovação e até da baixa qualidade de sambas executados nas emissoras de rádio era o tal jabá, que para ele já está "legalizado", dentro das empresas. Moisés da Rocha ainda saudoso de bons sambas interpretados por Mauro Diniz, Jovelina Pérola Negra, Fundo de Quintal, Pedrinho da Flor, Reinaldo, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Jorge Aragão, Beth Carvalho, Alcione, Martinho da Vila e tantos outros, disse que estes bamdas estão perdendo espaço porque passou a imperar no meio midiático a taxa de execução, ou seja, aquele acerto financeiro que reserva um pacote para que o artista consiga espaço para tocar na rádio. "Antigamente existia um programador musical e um diretor artístico que avaliava o lançamento ou disco e a possibilidade de executá-lo. Havia até promoção, mas o que valia era a qualidade. Hoje, basta passar no Departamento Comercial e qualquer um pode tocar. Isso tá acontecendo com o samba", observou Moisés, radialista que há mais de 20 anos comanda um programa essencialmente voltado para os sambistas e é também comentarista dos desfiles das escolas de samba. "O problema é que o jabá não enxerga qualidade. As emissoras tocam porque ganham para tocar e na maioria das vezes não toca coisa boa. O povo de tanto ouvir coisa ruim acaba acostumando", concluiu. Para ele, o que vai garantir o surgimento de uma boa safra musical é o movimento das comunidades de samba de raiz, que só em São Paulo já somam mais de 100 organizações, entre elas Samba da Laje, Samba da Vela, Samba do Jardim das Flores, Pagode Maria Cursi, Pagode da 27, Samba da Cultura entre outros.... São grupos que trazem sim uma nova lingugem, mas totalmente preocupada com as raízes. Longe da intenção de ficar nas mãos da mídia. Moisés da Rocha chama estes comunidades de "quilombos culturais" e destaca também o trabalho realizado pela ULM - Universidade Livre de Música, um programa do Governo do Estado de São Paulo, que tem promovido a inclusão de jovens talentos no universo musical, através da educação. Concordo que há espaço para todos, mas a nova geração deve se espelhar nos grandes bambas e suas maravilhosas melodias, muita mais comprometidas com a cultura do samba, com a hístória atual, com a discontração, o bom humor, a paixão.. .