segunda-feira, 11 de maio de 2009

Apresentador de Eventos na Corte do Rei

Por Claudia Alexandre

A atuação do apresentador de eventos já era importante na Idade Medieval. Nos castelos, reis e rainhas em seus pomposos e detalhados cerimoniais se valiam de pessoas destacadas para ajudá-los a anunciar e receber convidados nas suas aclamações, conquistas de guerra, boa colheita, casamentos e nascimentos de herdeiros, entre outras comemorações.
A figura de alguns integrantes da corte nas cerimônias era indispensável, principalmente porque deles dependia o bom andamento do Plano de Ordem (Protocolo) do evento. Na maioria das vezes, eles eram escolhidos entre os homens da Guarda Real para exercer a função de Oficial de Armas ou Rei de Armas, Passavantes ou Arautos. A eles cabia a tarefa de fazer anúncios, proclamações solenes, em alto e bom tom, conduzir as formalidades e fazer com que os desejos reais fossem suntuosamente absorvidos não só pelos convidados da nobreza, como também, pelos simples mortais.
A função mais famosa e antiga, que se pode associar a de um Apresentador de Eventos ou Mestre de Cerimônia, é sem dúvida o do “Arauto”. Eram os oficiais encarregados de proclamações, com a responsabilidade de anunciar a guerra ou a paz, informando a todos os súditos do rei os principais sucessos nas batalhas. Eles, como homens de confiança, também tinham a função especial de representar o rei, que lhes confiavam a tarefa de expor, proclamar as suas sentenças e seus pronunciamentos solenes. Os Arautos tinham as credenciais para falar em nome do próprio rei.
No organograma da Casa Real, o departamento de cerimonial tinha a seguinte composição:
Porteiro-mor - responsável por abrir a porta da sala onde se encontrava o Rei. Estavam-lhe subordinados os: Porteiros da maça - precediam os cortejos a pé; e Porteiros da cana - precediam o cortejo real, a cavalo;
Rei de Armas Portugal - principal oficial de heráldica.
Estavam-lhe subordinados os: Rei de armas Algarve - oficial heráldico de 1º nível; Rei de armas Índia - oficial heráldico de 1º nível; Arauto Lisboa - oficial heráldico de 2º nível; Arauto Silves - oficial heráldico de 2º nível ; Arauto Goa - oficial heráldico de 2º nível; Passavante Santarém - oficial heráldico de 3º nível; Passavante Tavira - oficial heráldico de 3º nível ; Passavante Coxim - oficial heráldico de 3º nível; Escrivão da Nobreza - subscrevia as cartas de armas; Armeiro-mor - encarregado dos livros de registro das armas.
E, é claro, não se deve esquecer também do lendário “Bobo da Corte”, o polêmico, mas fiel e talentoso animador e cerimonialista das cortes e palácios.
Em 1818, quando no Brasil a Família Real Portuguesa realizou a cerimônia de Aclamação de D. João VI, com rigoroso protocolo, para centenas de convidados e espectadores, um grupo de cerimonialista estava lá para garantir o sucesso do evento. Veja só nos trechos a atuação do chamado Rei de Armas abaixo:

...” Depois de ter o mesmo senhor infante ocupado o seu lugar, desenrolará o alferes mor a bandeira real e depois disto o rei d'armas dirá em voz alta o seguinte: Manda El rei nosso senhor que neste ato venham beijar-lhe a mão os grandes títulos seculares e eclesiásticos, e mais pessoas da nobreza assim como se acharem sem precedências, sem prejuízo de direito algum... Logo que o dito desembargador receber este recado, subirá ao estrado grande da parte esquerda: e o mesmo rei d'armas dirá por três vezes = Ouvide = ouvide = ouvide = estai atentos!..
...Feito o primeiro ato de aclamação, fará o alferes-mor reverência a sua majestade, e descendo do lugar em que estiver com a bandeira real acompanhando-o os porteiros da cana, e maça, reis d'armas, arautos, passavantes irão até ao meio da varanda ao lugar aonde estiver um estrado pequeno de três degraus, ao qual subirá com a bandeira na mão para dele aclamar a sua majestade. E subindo com também com ele o rei de armas Portugal [ ] voltados ambos para o povo, dirá o rei d'armas Portugal [ ] em voz alta = Ouvide = ouvide = ouvide, e estai atentos = e logo o alferes mor levantando a voz, quanto lhe for possível, dirá Real, real, real pelo muito alto, e muito poderoso senhor Rei Dom João VI do nome nosso senhor. Os reis d'armas, arautos, e passavantes dirão o mesmo, ajudando-os as pessoas que estiverem na varanda. Acabada esta segunda aclamação, dirá o rei d'armas Portugal [ ] Manda El Rei nosso senhor que só o acompanhem as pessoas que o vieram acompanhando. (Trecho Extraído do Plano de Ordem da Aclamação de D. João VI – O Arquivo Nacional e a História Luso-Brasileira – www.arquivonacional.gov.br).

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