sábado, 13 de janeiro de 2024

Livro Exu-Mulher e o Matriarcado de Claudia Alexandre aborda sobre masculinização e demonização de Exu

O novo livro da jornalista Claudia Alexandre, Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô: sobre masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés (Editora Aruanda/Fundamentos de Axé, 2023), insere um debate inédito no campo dos estudos sobre as tradições e religiosidades afro-brasileiras em relação ao que foi escrito até aqui sobre o controverso orixá Exu. Ao mesmo tempo insere registros e informações sobre as experiências de mulheres negras – africanas, escravizadas, alforriadas, libertas, que resistiram as opressões patriarcais para manter suas práticas ancestrais, apesar das violências do sistema escravista e no pós-abolição. Uma das alterações está na relação com o orixá Exu, que na iorubalândia tem representações femininas, que foram silenciadas nos primeiros terreiros no Brasil. Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô tem prefácio assinado pela professora e ativista Dra. Núbia Regina Nogueira e é baseada na tese de doutorado, defendida em novembro de 2021, eleita a Melhor Tese do Ano, pelo Programa de Ciência da Religião da PUC-SP. Foi finalista e segunda colocada do Prêmio SOTER/Paulinas de Teses (Prêmio Prof. Afonso Maria Ligório Soares) edição 2022, do Congresso Internacional da Soter (Sociedade de Teologia e Ciência da Religião). Mesmo ano em que lançou o livro-dissertação “Orixás no Terreiro Sagrado do Samba: Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai”, também pela Editora Aruanda/Fundamentos de Axé. O racismo religioso como uma das opressões sociais ganha centralidade com a figura de Exu e reivindica o lado feminino do orixá, algo ainda pouco explorado na literatura sobre a formação dos candomblés de tradição yorubá-nagô, cujos terreiros que cultuam Exu-Legba-Elegbara se autodenominam de nações ketu, jejê ou nagô. Em algumas localidades da África Ocidental são bem conhecidas as representações de Exu como um orixá ambíguo, que pode se apresentar como feminino e masculino, bem diferente da forma como foi introduzido nos terreiros do Brasil.
A PESQUISA - Na capital Salvador a autora percorreu os três terreiros fundantes, que ainda mantém o sistema matriarcal: Casa Branca do Engenho Vellho, Ilê Opó Afonjá e Terreiro do Gantois. O resultado foi a constatação de que, apesar da liderança das mulheres, houve tensões na relação com o orixá Exu, o que exigiu dissimulações e negociações por parte das poderosas iyalorixás,, em relação à dominação da Igreja Católica. A masculinização e a demonização foram as principais transformações que Exu sofreu na travessia atlântica. Uma busca motivada por registros de que em África, região da iorubalândia, alguns grupos realizam práticas rituais específicas onde figuras de Exu – masculina e feminina - evidenciam as diferenças anatômicas do par: ele com seu falo desproporcional, apito e gorro, e ela com seios e vulva demarcados e à mostra, jóias e, às vezes, acompanhada de outra figura que remete a uma criança. As imagens apresentam penteados alongados, uma marca da identidade do orixá. Em alguns lugares Exu é cultuado por famílias inteiras e por mulheres, onde está associado não apenas à fertilidade, como à fecundidade e à maternidade. Existem cultos exclusivos a essa divindade, onde se encontram representações femininas, nas regiões yorubá de Egbado, Igbomina, Ibraba, Olobo e Oshogbo. A autora debate sobre questões da hieraquia de gênero e as mulheres de terreiros, apontando como religiões de matrizes africanas foram atravessadas pela matriz de dominação patriarcal. Para as primeiras lideranças o Exu demonizado se transformou em um elemento demonizante. O destaque dado ao falo na representação da divindade na diáspora negra, como símbolo de sua masculinidade, teria excluído completamente os traços de feminilidade. Na cosmogonia iorubá Olodumaré, o Deus supremo teria lhe constituído com os princípios masculino e feminino, dando-lhe controle sobre eles, um poder que não foi concedido a nenhuma outra divindade. Exu é dono do movimento, que mantém o equilíbrio vital e distribui em partes iguais o essencial aos seres viventes, para que haja fertilidade e vida constante dos seus cultuadores. Ao analisar a definição do papel da mulher como autoridade máxima nos terreiros de candomblé, bem como o trato com Exu e sua masculinidade demonizada, principalmente entre os séculos XIX-XX, a autora destaca uma série de aproximações e rejeições dentro da própria comunidade de axé. "Sabe-se que no início havia resistência, por parte de antigas lideranças, em iniciar “filhos” e “filhas” deste orixá, ocorrendo muitos casos de troca pelo orixá Ogum, o grande guerreiro dos metais. As justificativas para tal barganha acabavam por reforçar o imaginário demoníaco imposto à divindade. Esses constrangimentos podem ter levado ao ocultamento e o silenciamento sobre qualquer assunto referente a existência do feminino de Exu", disse Claudia. Chama atenção o fato de a figura feminina de Exu, além de não ter sido introduzida nas representações do orixá nos candomblés nagôs no Brasil, ser desconhecida em algumas casas de culto e um assunto mantido em silêncio nos terreiros mais tradicionais. No livro estão disponíveis imagens e representações da figura feminina de Exu, evidenciando que a diáspora negra ainda mantém muitos fragmentos de violências que alteraram a relação do povo negro com seus sistemas de crenças e com a cosmologia africana. FICHA TÉCNICA - Título: Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô: sobre masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés Editora: Editora Aruanda/Selo Fundamentos de Axé - RJ Ano: 2023 Autora: Claudia Alexandre (Instagram: @claualex16) Prefácio: Nubia Regina Nogueira Coordenação Editoral: Aline Martins Capa: Amanara Páginas: 464 ISBN: 978-65-97708-19-5 Contato/vendas: www.editoraaruanda.com.br

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Especialistas e sambistas criam Observatório de Combate ao Racismo no Carnaval de São Paulo e pedem punição ao presidente da X-9 Paulistana

Um grupo de especialistas e sambistas que formam o Observatório Permanente e Multidisciplinar de Combate ao Racismo no Carnaval das Escolas de Samba Paulistanas, acompanhado de representantes de órgãos e instituições antirracistas e pela promoção da igualdade racial entregou ontem, terça-feira (27), uma carta de reivindicações ao presidente da Liga das Escola de Samba de São Paulo, Sidnei Carriuolo. O encontro ocorreu na sede da entidade, na Fábrica do Samba, na zona oeste, com as presenças dos membros do Observatório: as jornalistas Adriana Terra e Claudia Alexandre; o historiador Bruno Baronetti; o radialista Moisés da Rocha, o sociólogo Tadeu Kaçula e o cantor Thobias da Vai-Vai. Participaram ainda os representantes da Comissão da Igualdade Racial da OAB-SP, Faculdade Zumbi dos Palmares, Associação Nacional da Advocacia Negra do Brasil, Conselho de Participação da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, UNAFRO-Universidade Afro-Brasileira, Coletivo Acadêmicas do Samba e Procon Racial de São Paulo. Antes da entrega do documento (veja íntegra abaixo), o grupo fez diversas considerações contrárias a fala do presidente da Escola de Samba X-9 Paulistana, Reginaldo Tadeu Batista de Souza, conhecido como Mestre Adamastor, “que na noite de 19 de fevereiro, na área da concentração do Sambódromo do Anhembi foi autor de fala considerada racista, banalizando um gesto de alta simbologia e unidade para o movimento antirracista, marco da luta e resistência do povo preto na diáspora e contra toda e qualquer injustiça social”, conforme consta na Carta de Reivindicações. “Viemos dizer da nossa indignação e cobrar as medidas cabíveis divulgadas em nota oficial pela Liga, que deve uma resposta à comunidade do samba, à história negra do samba e a toda sociedade que assistiu pela transmissão da Liga das Escolas de Samba aquele pronunciamento lamentável. Nada foi tirado de contexto, houve uma expressão que banalizou um símbolo de resistência da luta negra, por isso consideramos que deve haver uma resposta rápida”, disse a jornalista Claudia Alexandre. O sociólogo Tadeu Kaçula lembrou que há muito tempo o tema do “embranquecimento” no carnaval é dialético e vem apontando o risco do apagamento da história e das narrativas negras do nosso patrimônio cultural. “Quando um dirigente se manifesta banalizando um gesto de luta, num espaço do povo do samba, numa festa oficial da cidade de São Paulo, patrocinada a partir de um investimento público, incita sua comunidade a repetir um gesto e faz uma fala que vai contra o próprio tema enredo que homenageia uma personalidade negra como foi a Dona Ivone Lara, significa que essa pessoa não tem empatia com os fundamentos de uma escola de samba que é, também, um símbolo de resistência negra. Pior ainda quando se divulga um vídeo de retratação onde o dirigente assume desconhecer um gesto universal de resistência e da luta do povo preto”.
Outro ponto importante da reivindicação é que haja imediata atualização do Regulamento Oficial da Liga das Escolas de Samba com a inclusão de penalidade máxima ou banimento da escola de samba, do presidente, da torcida que se manifestar ou provocar atos racistas ou de qualquer forma de discriminação dentro ou fora do Sambódromo. “Que seja incluída no Regulamento a penalidade máxima (perda de pontos e/ou banimento) e responsabilização criminal para pronunciamentos, comportamentos e atos de racismo, intolerância religiosa, machismo, homofobia, etarismo, xenofobismo e qualquer tipo de discriminação”. Com a formação do Observatório o objetivo é atuar de forma consultiva, propositiva e fiscalizadora em todas as questões que envolvam as relações humanas e a educação do patrimônio cultural afro-brasileiro dentro da gestão do carnaval das escolas de samba, que inclua formação e instrução de gestores, comunidades das escolas de samba e julgadores do concurso de carnaval. Temas como “camarotização” e precarização da ocupação de empurrador de carros alegóricos também foram incluídos na pauta. O historiador Bruno Baronetti ressaltou que novas lideranças carnavalescas devem ter formação para entender a história e as origens do samba paulistano, atuando para replicá-las, frisando ser central que os dirigentes conheçam esses fundamentos. O presidente Sidnei Carriuolo ratificou a posição da Liga em repudiar a fala do presidente da Escola de Samba X-9 Paulistana e prometeu discutir as reivindicações em uma reunião extraordinária convocada para a noite da própria terça-feira (27), adiantando que as mudanças no regulamento e uma campanha de conscientização seriam pontos já aprovados. Uma nova reunião com o Observatório será marcada para alinhamento da campanha e formalização da decisão em relação ao Mestre Adamastor. Observatório de Combate ao Racismo no Carnaval de São Paulo (Observatório Permanente e Multidisciplinar de Combate ao Racismo no Carnaval das Escolas de Samba Paulistanas) Leia a Íntegra da Carta de Reivindicações: À LIGA DAS ESCOLAS DE SAMBA DE SÃO PAULO – Presidente Sidnei Carriuolo O coletivo pela criação do Observatório Permanente e Multidisciplinar de Combate ao Racismo no Carnaval das Escolas de Samba Paulistanas, tem o objetivo de ser um movimento multidisciplinar de igualdade racial, de gênero, de classe e, principalmente, da preservação da cultura das matrizes negro-africanas nas escolas de samba da cidade de São Paulo, de caráter fiscalizador, consultivo e propositivo. Por meio de seus representantes abaixo assinados e com o apoio de órgãos e instituições que atuam na promoção da igualdade racial, com ênfase na população negra e na cultura afro-brasileira, diante dos fatos que atingiram duramente a integridade do patrimônio cultural material e imaterial negro, que representam as Escolas de Samba, vem requerer junto à Liga das Escolas de Samba e São Paulo, a manifestação pública da decisão das “medidas cabíveis internamente” tomadas em relação ao presidente da Escola de Samba X-9 Paulista, Reginaldo Tadeu Batista de Souza, conhecido como Mestre Adamastor, que na noite de 19 de fevereiro, na área da concentração do Sambódromo do Anhembi foi autor de fala considerada racista, banalizando um gesto de alta simbologia e unidade para o movimento antirracista, marco da luta e resistência do povo preto na diáspora e contra toda e qualquer injustiça social. Fato que foi amplamente divulgado pela mídia. Consideramos que este episódio lamentável expôs a comunidade do samba da cidade de São Paulo e marca o carnaval de 2023, como ano em que o racismo estrutural se evidenciou as consequências do processo de dominação, que há muito tempo tirado o protagonismo da população negra da festa no Sambódromo. Ficou evidente que os detentores do poder e da gestão do carnaval estão contribuindo para o apagamento da verdadeira história e da função social das escolas de samba como rede de sociabilidades, territórios onde negros e negras resistiram, enfrentando toda sorte de violências e perseguições para manter suas heranças negro africanas e constituir organizações que por muito tempo foram criminalizadas e condenadas pela elite branca e racista. Hoje, a festa das escolas de samba paulistanas só pode ser saboreada sob os holofotes da televisão e celebrada por milhares de espectadores das arquibancadas do Sambódromo, porque na sua origem teve muito choro, suor e axé de famílias negras que não abriram mão de fazer florescer, desde a época dos cordões, organizações como Grupo Carnavalesco Barra Funda, Cordão Fio de Ouro, Cordão Vai-Vai, Cordão Camisa Verde e Branco, Escola de Samba Lavapés, Escola de Samba Unidos do Peruche, Escola de Samba Morro da Casa Verde, Escola de Samba Nenê de Vila Matilde, Escola de Samba Vai-Vai, Escola de Samba Barroca da Zona Sul, entre outras tantas que são testemunhas da raíz negra que sustenta a história do samba paulista. Homens e Mulheres, que de protagonistas de uma luta, hoje tem suas memórias em risco de se apagar, com o avanço do processo de embranquecimento da gestão das escolas de samba e da gestão da festa dos desfiles do carnaval. Em um processo muito bem explicado pela filósofa e intelectual negra, Sueli Carneiro, através do conceito de epistemicídio. Ratificamos nossa preocupação com outro fenômeno prejudicial ao processo histórico da cultura afro-brasileira que se tornou recorrente no meio, que é o “pacto narcísico no carnaval das escolas de samba de São Paulo”, assim como nos apontam os estudos da Dra. Cida Bento, quando observamos o “embranquecimento da gestão” das agremiações e da estrutura que detém o poder sobre a organização da festa, privilegiando pessoas brancas e o afastamento de pessoas negras, o que configura a apropriação cultural, um dispositivo do qual se vale o racismo sistêmico. Por entendermos nosso compromisso ancestral, no qual as transformações não podem servir de argumento para apagar as tradições e que o passado sempre nos ajudará a enfrentar o presente segue abaixo a nossa pauta de reivindicações: 1-Reconhecimento do Observatório Permanente e Multidisciplinar de Combate ao Racismo no Carnaval das Escolas de Samba Paulistanas ao constituir uma agenda de cooperação técnica e profissional que atue como um grupo independente de caráter fiscalizador, consultivo e propositivo na formação, reciclagem e preparação de presidentes, diretores, gestores e julgadores dos desfiles das escolas de samba de São Paulo, como política de ações afirmativas, de defesa e preservação das tradições afro-brasileiras da origem das escolas de samba paulistanas; 2. Que a Liga das Escolas de Samba de São Paulo desenvolva um Programa de Comunicação e Educação do Patrimônio Histórico e Cultural Negro das escolas de samba, fornecendo informações, conteúdos e eventos para comunidades das escolas de samba paulistanas, com temas sobre relações étnico-raciais, diversidade, inclusão, questões de gênero, orientação sexual e religiosidades; 3. Que seja incluída no Regulamento a penalidade máxima (perda de pontos e/ou banimento) e responsabilização criminal para pronunciamentos, comportamentos e atos de racismo, intolerância religiosa, machismo, homofobia, etarismo, xenofobismo e qualquer tipo de discriminação; 4. Que se abra o debate sobre a "camarotização" do carnaval que desrespeita o espetáculo dos sambistas e o investimento do público das arquibancadas, promovendo um apartheid, quando grandes empresas oferecem grandes shows e eventos de alto custo, durante a passagem das escolas de samba, que se tornam secundárias, quando na verdade são protagonistas da festa. Que haja negociação com as empresas e patrocinadores, que limite horários de shows com atrações ao vivo; 5. Que a Liga das Escolas de Samba de São Paulo apoie e atue na regulamentação da função do empurrador de carros alegóricos, cuja função tem sido exercida por uma maioria de pessoas em situação de rua e destacada atuação de homens e mulheres pretas, que vivenciam humilhações na prestação de um serviço cada vez mais precário; 6. Que seja observado no processo de seleção dos julgadores contratados, a equidade e igualdade de oportunidade dos profissionais, promovendo um equilíbrio em relação à raça e gênero, passando exigir como requisito experiência ou vivência profissional com samba, escolas de samba e carnaval. São Paulo, 27 de fevereiro de 2023 Membros do Observatório Permanente e Multidisciplinar de Combate ao Racismo no Carnaval das Escolas de Samba Paulistanas: Adriana Terra - Jornalista, Mestra e doutoranda em Filosofia pela FFLCH-USP, professora e ritmista. Claudia Alexandre – Jornalista, Apresentadora de Rádio e TV, Mestre e Doutora em Ciência da Religião, sambista, escritora e pesquisadora de sambas, escolas de samba e tradições de matrizes africanas Bruno Baronetti – Professor, Doutor em História, escritor e pesquisador de cultura popular brasileira Moisés da Rocha – Radialista e apresentador do programa O Samba Pede Passagem (Radio USP FM) Thobias da Vai-Vai – cantor, sambista, presidente de honra da Escola de Samba Vai-Vai; presidente de honra da Faculdade Zumbi dos Palmares Lyllian Bragança - Sambista, Passista do Carnaval Paulistano há 25 anos. Em 2020 fundou o Coletivo Samba Quilomba, com o propósito de falar da história do carnaval, além de abordar temas como: racismo, machismo e homofobia. É jornalista e nos últimos 5 anos têm pesquisado sobre o carnaval. Escreveu para o Jornal Notícias em Português de Londres; Revista Sampa; e Matraca Cultural. Faz parte da Associação de Cultural e Educacional do Samba de Londres (Samba de Bamba). Maitê Freitas – Jornalista, Mestre em Estudos Culturais. Idealizadora do Projeto Samba Sampa e coordenadora da Oralituras Editora. Juarez Xavier - Ativista antirracista, possui graduação em Comunicação Social Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990), mestrado - Programa de Pós Graduação em Integração da América Latina: comunicação e cultura - Universidade de São Paulo (Prolam/USP, 2000) e doutorado - Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina - Universidade de S. Paulo (Prolam/USP, 2004). Atualmente é professor assistente doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, e Vice-Diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design [Faac/Unesp/Bauru] e do Fórum das Vice-Direções da Universidade Estadual Paulista. Osvaldo Faustino – É jornalista desde 1976, além de escritor e estudioso de relações étnico-raciais. Atuou como repórter em rádio, TV, revistas e vários jornais, como Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, e como editor de Cultura do Diário Popular. É coautor (com Aroldo Macedo) dos livros A cor do sucesso (Gente, 2000), Luana, a menina que viu o Brasil neném (FTD, 2000), Luana e as sementes de Zumbi (FTD, 2007) e Luana, capoeira e liberdade (FTD, 2007) e dos gibis Luana e sua turma (Editora Toque de Mydas). É autor dos livros Nei Lopes da coleção Retratos do Brasil Negro, e A legião negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932 ambos editados pela Selo Negro Edições. Colaborador da revista Raça Brasil desde sua criação. Tadeu Kaçula – Sambista, Sociólogo, Mestre e Doutorando em Mudança Social e Participação Política (USP), membro do Grupo de Estudos Latino Americano sobre Cultura e Comunicação (CELACC-USP), Escritor, Especialista em Cultura Afro Brasileira, Comentarista do Carnaval pela GloboNews, Portal Terra e Rádio CBN. Rede de Apoio: Associação Nacional da Advocacia Negra do Brasil Comissão da Igualdade Racial OAB.SP COJIRA-SP – Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo Conselho da Comunidade Negra do Estado de São Paulo EDUCAFRO – Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes de São Paulo Universidade Zumbi dos Palmares UNEGRO – União de Negras e Negros Pela Igualdade Gabinete Parlamentar da Deputada Leci Brandão IDAFRO – Instituto de Defesa das Tradições Afro-brasileiras NFNB - Nova Frente Negra Brasileira UNAFRO – Universidade Afro-brasileira Coletivo Acadêmicas dos Sambas

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Flip 2022: Editora Aruanda leva livros de Claudia Alexandre e Flávia Pinto para Casa Poéticas Negras

Jornalista e Doutora em Ciência da Religião, Claudia Alexandre, autora do livro "Orixás no Terreiro Sagrado do Samba", participa de atividades na Casa Poéticas Negras levada pela Editora Aruanda (RJ), que tem entre outros lançamentos, “Umbanda Preta”, de Flávia Pinto ...
Começa nesta quarta-feira, dia 22, a 20ª. Flip – Feira Literária Internacional de Paraty. O evento irá até domingo, dia 27 e promete ocupar vários espaços, ruas e já conta com um número maior de parceiros, ampliando a participação de pequenas editoras e artistas independentes. Os espaços do Auditório do Areal, Cinema da Praça e da Casa da Cultura sediarão debates, lançamentos de livros, apresentações musicais, exposições, exibições de filmes, entre outros eventos. Este ano a homenageada é Maria Firmina dos Reis, escritora, negra, maranhense, considerada a primeira romancista brasileira, autora de Ursúla (1859). Além das mesas que acontecem no Auditório da Matriz, uma série de programações paralelas se firma como um importante eixo de conteúdos, expandindo o modo como a Flip qualifica experiências e olha para a ocupação do espaço público, por meio da arte. Este ano mais de 20 espaços, com programações variadas e lançamentos para todos os públicos abrigará pequenas editoras e temas diversos. No auditório principal são esperados nomes como a escritora francesa Annie Ernaux, premio Nobel de Literatura (2022), Saidiya Hartman, Benjamin Labaut, Ana Flávia Magalhães Pinto, Cidinha Silva, Conceição Evaristo e Lázaro Ramos, entre outros. Até 2016, a feira recebia muitas críticas por ser um evento que excluía, por exemplo, autores e autoras negras. Foi o ano em que a poeta Conceição Evaristo, convidada para uma mesa do Itau Cultural disse olhando para o curador do evento que “na medida em que as outras formas não são consideradas, não são lidas, não são divulgadas e não são incorporadas ao sistema literário brasileiro, fica uma lacuna, porque a literatura tem essa possibilidade de ler a nação, estamos lendo uma nação incompleta”. A crítica foi ouvida e o assunto virou manchete de vários veículos da imprensa. A justificativa da coordenação era não ter conseguido agenda de mais convidadas e convidados negros, naquele ano. A reclamação de Conceição Evaristo, reforçada por um manifesto do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras (UFRJ), surtiu efeito e de lá pra cá a mudança pode ser medida em curva ascendente. Em 2017 houve uma equidade entre homens e mulheres e um aumento de 30% na participação de negros e negras. Em 2019, dos 5 livros mais vendidos na Flip, quatro eram de autoria de negros e negras e um de indígena. De acordo com a organização da Flip 2022 a ideia de dar mais espaço para editoras e autores independentes nasceu de modo a ampliar a experiência compartilhada entre escritores, artistas e o público da festa. O novo espaço localizado no Areal do Pontal, ao lado do Auditório do Areal terá uma área expositiva voltada à comercialização de livros e outras publicações – como cartazes, revistas, zines, etc. – de editores e artistas independentes. Casa Poéticas Negras e novos espaços Na Casa Poéticas Negras, localizada na Rua Comendador José Luiz, 398 (Centro Histórico) haverá uma programação extensa e gratuita, voltada para a valorização e promoção das manifestações artísticas literárias afro-brasileiras e da diáspora. A abertura será nesta quarta-feira, dia 23, às 14h, com “Encontro com o Escritor Francisco Lima Neto, que assina a Coleção Black Power (biografia de Laudelina de Campos Mello, Luiz Gama e Ailton Krenak. O encerramento, no domingo dia 27, será às 21h30 com show do grupo cultural local, Oju iyé iyé – “Do samba ao groove”.
A jornalista e pesquisadora Claudia Alexandre também é uma das convidadas do mesmo espaço e estará apresentando o seu livro Orixás no Terreiro Sagrado do Samba - Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai (Editora Aruanda), na quinta-feira, 24, às 20 h, numa roda de conversa que antecede o show “ÿlDÉ”da cantora Héloa. Na sexta-feira, dia 25, às 20h, Claudia Alexandre estará na Roda de Conversa “Território Matriarcal Ancestral” ao lado da autora Flávia Pinto, que está lançando o livro Umbanda Preta (Editora Aruanda). (Confira a programação completa no site Casa Poéticas Negras). Apesar de paulistana, Claudia Alexandre há 15 anos tem os pés “assentados” na cidade de Paraty, atendendo “um chamado da ancestralidade”. Além de pesquisadora de manifestações culturais afro-brasileiras (sambas e escolas de sambas) e religiosidades negras, é Ebomi de Oxum, no candomblé e dirigente umbandista na cidade de Paraty, onde funciona o terreiro fundado e mantido pela família, em 2003. “Quando cheguei aqui conheci histórias de muita luta e violência aos povos negros escravizados e aos indígenas, que contrasta com a maravilha e o potencial turístico daqui. Naquela época nem existia a Flip. O evento foi chegando e me incomodava muito perceber uma apropriação do lugar e uma exclusão dos saberes que está impresso em cada pedaço dessa cidade”, disse ela, que participa pela segunda vez de uma programação alternativa dentro da Flip. Em 2018, foi uma das autoras convidadas do projeto Samba Sampa, da jornalista Maitê Freitas, que publicou a Coleção Sambas Escritos (Editora Pólen). Os sambas e as religiões afro-brasileiras foram o caminho para seu encontro com o mercado literário. Em 2004 lançou “Escola de Samba Vai-Vai, orgulho da Saracura” e 2005 “Na Fé de Vivaldo de Logunedé – Um pouco do Candomblé na Baixada Santista”. “São temas que mostram experiências históricas desprezadas ao longo do tempo como fonte de saber. Temos que ocupar espaços para que outras narrativas revolucionem nossos conhecimentos sobre esse Brasil e os povos que dele fazem parte. Ler e ouvir com mais atenção mulheres negras, de terreiro, dos sambas, indígenas, lgbtqiapn+ e de outras humanidades pode ser o caminho para reparar desigualdades e melhorar nossa relação com o mundo”, conclui a autora. A programação paralela Flip 2022 Paraty ocupará os seguintes espaços parceiros : Casa Poéticas Negras, Tyiwaras Tikunas, Casa Escreva Garota! Casa Malê, Casa PublishNews, Casa Gueto, Casa Folha, Grupo Editorial Alta Books, Casa Estante Virtual, Casa Ramboll, Livraria das Marés, Casa do Cordel, Casa Record, Casa Mar, Casa da Leitura e Conhecimento, Sesc Santa Rita, Sesc Caborê, Casa Edições Sesc, Casa Paratodos, Livraria Dois Pontos, Espaço Guarani e Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios.