terça-feira, 22 de novembro de 2022

Flip 2022: Editora Aruanda leva livros de Claudia Alexandre e Flávia Pinto para Casa Poéticas Negras

Jornalista e Doutora em Ciência da Religião, Claudia Alexandre, autora do livro "Orixás no Terreiro Sagrado do Samba", participa de atividades na Casa Poéticas Negras levada pela Editora Aruanda (RJ), que tem entre outros lançamentos, “Umbanda Preta”, de Flávia Pinto ...
Começa nesta quarta-feira, dia 22, a 20ª. Flip – Feira Literária Internacional de Paraty. O evento irá até domingo, dia 27 e promete ocupar vários espaços, ruas e já conta com um número maior de parceiros, ampliando a participação de pequenas editoras e artistas independentes. Os espaços do Auditório do Areal, Cinema da Praça e da Casa da Cultura sediarão debates, lançamentos de livros, apresentações musicais, exposições, exibições de filmes, entre outros eventos. Este ano a homenageada é Maria Firmina dos Reis, escritora, negra, maranhense, considerada a primeira romancista brasileira, autora de Ursúla (1859). Além das mesas que acontecem no Auditório da Matriz, uma série de programações paralelas se firma como um importante eixo de conteúdos, expandindo o modo como a Flip qualifica experiências e olha para a ocupação do espaço público, por meio da arte. Este ano mais de 20 espaços, com programações variadas e lançamentos para todos os públicos abrigará pequenas editoras e temas diversos. No auditório principal são esperados nomes como a escritora francesa Annie Ernaux, premio Nobel de Literatura (2022), Saidiya Hartman, Benjamin Labaut, Ana Flávia Magalhães Pinto, Cidinha Silva, Conceição Evaristo e Lázaro Ramos, entre outros. Até 2016, a feira recebia muitas críticas por ser um evento que excluía, por exemplo, autores e autoras negras. Foi o ano em que a poeta Conceição Evaristo, convidada para uma mesa do Itau Cultural disse olhando para o curador do evento que “na medida em que as outras formas não são consideradas, não são lidas, não são divulgadas e não são incorporadas ao sistema literário brasileiro, fica uma lacuna, porque a literatura tem essa possibilidade de ler a nação, estamos lendo uma nação incompleta”. A crítica foi ouvida e o assunto virou manchete de vários veículos da imprensa. A justificativa da coordenação era não ter conseguido agenda de mais convidadas e convidados negros, naquele ano. A reclamação de Conceição Evaristo, reforçada por um manifesto do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras (UFRJ), surtiu efeito e de lá pra cá a mudança pode ser medida em curva ascendente. Em 2017 houve uma equidade entre homens e mulheres e um aumento de 30% na participação de negros e negras. Em 2019, dos 5 livros mais vendidos na Flip, quatro eram de autoria de negros e negras e um de indígena. De acordo com a organização da Flip 2022 a ideia de dar mais espaço para editoras e autores independentes nasceu de modo a ampliar a experiência compartilhada entre escritores, artistas e o público da festa. O novo espaço localizado no Areal do Pontal, ao lado do Auditório do Areal terá uma área expositiva voltada à comercialização de livros e outras publicações – como cartazes, revistas, zines, etc. – de editores e artistas independentes. Casa Poéticas Negras e novos espaços Na Casa Poéticas Negras, localizada na Rua Comendador José Luiz, 398 (Centro Histórico) haverá uma programação extensa e gratuita, voltada para a valorização e promoção das manifestações artísticas literárias afro-brasileiras e da diáspora. A abertura será nesta quarta-feira, dia 23, às 14h, com “Encontro com o Escritor Francisco Lima Neto, que assina a Coleção Black Power (biografia de Laudelina de Campos Mello, Luiz Gama e Ailton Krenak. O encerramento, no domingo dia 27, será às 21h30 com show do grupo cultural local, Oju iyé iyé – “Do samba ao groove”.
A jornalista e pesquisadora Claudia Alexandre também é uma das convidadas do mesmo espaço e estará apresentando o seu livro Orixás no Terreiro Sagrado do Samba - Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai (Editora Aruanda), na quinta-feira, 24, às 20 h, numa roda de conversa que antecede o show “ÿlDÉ”da cantora Héloa. Na sexta-feira, dia 25, às 20h, Claudia Alexandre estará na Roda de Conversa “Território Matriarcal Ancestral” ao lado da autora Flávia Pinto, que está lançando o livro Umbanda Preta (Editora Aruanda). (Confira a programação completa no site Casa Poéticas Negras). Apesar de paulistana, Claudia Alexandre há 15 anos tem os pés “assentados” na cidade de Paraty, atendendo “um chamado da ancestralidade”. Além de pesquisadora de manifestações culturais afro-brasileiras (sambas e escolas de sambas) e religiosidades negras, é Ebomi de Oxum, no candomblé e dirigente umbandista na cidade de Paraty, onde funciona o terreiro fundado e mantido pela família, em 2003. “Quando cheguei aqui conheci histórias de muita luta e violência aos povos negros escravizados e aos indígenas, que contrasta com a maravilha e o potencial turístico daqui. Naquela época nem existia a Flip. O evento foi chegando e me incomodava muito perceber uma apropriação do lugar e uma exclusão dos saberes que está impresso em cada pedaço dessa cidade”, disse ela, que participa pela segunda vez de uma programação alternativa dentro da Flip. Em 2018, foi uma das autoras convidadas do projeto Samba Sampa, da jornalista Maitê Freitas, que publicou a Coleção Sambas Escritos (Editora Pólen). Os sambas e as religiões afro-brasileiras foram o caminho para seu encontro com o mercado literário. Em 2004 lançou “Escola de Samba Vai-Vai, orgulho da Saracura” e 2005 “Na Fé de Vivaldo de Logunedé – Um pouco do Candomblé na Baixada Santista”. “São temas que mostram experiências históricas desprezadas ao longo do tempo como fonte de saber. Temos que ocupar espaços para que outras narrativas revolucionem nossos conhecimentos sobre esse Brasil e os povos que dele fazem parte. Ler e ouvir com mais atenção mulheres negras, de terreiro, dos sambas, indígenas, lgbtqiapn+ e de outras humanidades pode ser o caminho para reparar desigualdades e melhorar nossa relação com o mundo”, conclui a autora. A programação paralela Flip 2022 Paraty ocupará os seguintes espaços parceiros : Casa Poéticas Negras, Tyiwaras Tikunas, Casa Escreva Garota! Casa Malê, Casa PublishNews, Casa Gueto, Casa Folha, Grupo Editorial Alta Books, Casa Estante Virtual, Casa Ramboll, Livraria das Marés, Casa do Cordel, Casa Record, Casa Mar, Casa da Leitura e Conhecimento, Sesc Santa Rita, Sesc Caborê, Casa Edições Sesc, Casa Paratodos, Livraria Dois Pontos, Espaço Guarani e Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios.