domingo, 7 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher - A Mulher Negra na TV brasileira

Por Claudia Alexandre

Olhando o meu universo, o da comunicação social, confesso que ao tentar comemorar mais um "Dia internacional da Mulher", ainda não sei como fazê-lo. Não que eu esteja surpresa com a posição em que figuram as mulheres negras na sociedade brasileira, que tem os salários mais baixos e as menores chances de ascensão na carreira em que escolheram, apesar do nível de escolaridade. São dados que infelizmente ainda não conseguimos superar e talvez só o faremos, quando efetivamente tivermos o Sistema de Cotas, como ação afirmativa da sociedade brasileira e deixar de acreditar no discurso de desconstrução da nossa militância, de que esta ação reparadora é "racismo às avessas". O que continua do avesso é a discriminação racial no Brasil!
Bom, voltando ao Dia internacional da Mulher e a Mulher Negra na TV, eu foco o meu olhar na mídia brasileira e na questão racial e de gênero, principalmente no rádio e na TV, onde a visibilidade é a meta.
Por muito tempo, mesmo antes de me formar em jornalismo, assisti a Glória Maria na TV Globo e pensava comigo, "será que só teremos negras apresentadoras nesta emissora quando a Glória Maria sair do vídeo"... E agora que ela saiu, se ela voltar, o que será da Glória??
Alguém pode até dizer, não é bem assim, a "vênus platinada" tem cumprido o seu papel ( e não é só na telenovela, onde finalmente os negros têm família, e estão menos caricatos) temos a Zileide Silva, que está a frente do Bom Dia Brasil e estreou (muito bem, por sinal!), no ano passado comandando algumas edições do Jornal Hoje. E ainda a Dulcinéia Novaes, repórter em Curitiba. Agora, nossa querida Maria Júlia Coutinho, repórter em São Paulo. Mas ainda é muito pouco, e podem acreditar. Sair da reserva da vaga da Glória e salpicar algumas profissionais negras no vídeo, ainda está longe de nos fazer contentar.
Até porque, como líder de audiência, a própria TV Globo criou um estigma que contaminou as outras emissoras. Pois de um tempo prá cá, cada uma contratou a "sua" jornalista negra, expôs no vídeo e pronto! E ainda dizem, aqui não tem discriminação, vale o potencial. Tudo bem, mas será que só tem uma profissional negra prá cada uma. Tá combinado e não se discute! E olhem que se formos pedir cotas, vão dizer que é exagero, perseguição e que estamos praticando o racismo...ou seja, estamos querendo demais!
Quem pode comprovar isso, é quem sente na pele... falo de Joyce Ribeiro, no SBT, que após ficar quase quatro anos, como "a substituta", agora finalmente está no comando do "Boletim de Ocorrências", é o que lhe resta fazer, e ela faz com a maior competência. Aliás competência que já poderia ter sido melhor aproveitada, pois diga-se de passagem, ainda fica a pergunta porque as novatas (que cruzavam as pernas para apresentar telejornal, lembram?) Analice Nicolau e Cintia Benini conseguiram seus lugares na bancada, antes da Joyce, que foi para a emissora para cobrir as folgas de nada mais nada menos que Ana Paula Pradrão? Também tenho que lembrar de outra amiga, a apresentadora Luciana Camargo, da TV Gazeta, que passou brilhantemente pela TV Cultura, Band News e agora, ocupa por várias vezes, a cadeira do Jornal da Gazeta. Nem preciso dizer, que eu sei muito bem, pois já passei por emissoras de rádio e TV, como é a luta destas profissionais nos bastidores e nos corredores das emissoras. Somos prova viva, de que a história de "ter que matar um leão por dia" para garantir seu espaço não é tarefa fácil. Por isso, nesta data dedicada às mulheres não poderia deixar de levantar este assunto, e mandar um abraço e minha admiração por elas, mulheres negras da televisão brasileira"....

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