sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A suavidade da artista plástica Yêdamaria

No auge dos seus 78 anos, a baiana Yêdamaria tem uma trajetória digna de um roteiro de cinema. Tive o prazer de entrevistá-la em novembro de 2010 para a Revista AfroB, publicação do Museu Afro Brasil para o Pontão de Cultura, do Ministério da Cultura. Foi um encontro incrível, daqueles que dá orgulho de ser jornalista!
Ela me falou das suas fases artísticas e da paixão pela arte, pelo trabalho e pelas cores de sua terra natal. Reiterou a sua crença e disse que a fé em Deus ajudou a superar obstáculos, como o preconceito que sofreu por ser brasileira, mulher e negra durante sua trajetória.
Hoje ela vive sozinha em São Paulo e está envolvida com a pintura de telas onde reproduz mesas e utensílios que traduzem bom gosto e requinte dessa figura suave, que esbanja dignidade.
Yêda foi a primeira mulher a receber uma bolsa de estudos para mestrado na Illinois State University (EUA), em um programa para professores universitários da América Latina. Na época, 1978, ela ocupava o cargo de docente na Universidade Federal da Bahia. Ela conta que foi surpresa geral o anúncio de que uma mulher negra embarcaria para um sonho acalentado por muitos.
De sua arte, ela destacou as fases que vivenciou e inspirações que marcam sua personalidade artística. Ela já pintou maçãs (naureza morta), barcos, sereias e Yemanjás. Aliás, a Deusa das águas salgadas é a orixá de devoção, uma ligação da artista com a religiosidade afro-brasileira. A melhor passagem foi ouví-la dizer que ao chegar aos Estados Unidos sua arte, na fase dedicada aos barcos, sereias e yemanjás foi considerada primitiva. Yêda foi forçada a mudar sua realidade se quisesse continuar os estudos. Uma fase muito difícil superada com criatividade e força de vontade. Ao retornar ao Brasil, dois anos depois, o tema tinha sido radicalmente adormecido. Mas uma nova Yêdamaria despontava com maravilhosas pinturas de mesas bem postas, requintadas e surpreendentemente detalhadas.
Salve a arte de Yêdamaria!

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