quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Milton Cunha e Célia Domingues inauguram a galeria de "notórios eternos" em noite de samba e animação no Rio de Janeiro

Confesso que foi uma surpresa ter recebido a notícia de que meu nome estava entre os notáveis escolhidos pelo carnavalesco e multiartista, Milton Cunha e pela professora Célia Domingues, para integrar a galeria de "sambistas imortais" da recém-inaugurada Academia Brasiileira de Artes Carnavalescas. A ABAC passa a funcionar no Rio de Janeiro, na Travessa do Oratório, aos moldes da Academia de Letras, que eterniza persolidades de notório saber e produção intelectual, com contribuição máxima para a nossa sociedade. Além da emoção e da honra é realmente indescritível receber uma ligação do admirado Milton Cunha te agradecendo pelo que você representa. Foi com esse misto de emoção e ansiedade que estive na última terça-feira, dia 1 de outubro, na festa de inauguração da sede da ABAC e fui recepcionada pela alegria e o abraço do presidente e criador desta maravvilha de iniciativa, ao lado da vice-presidente, a Célia Domingues.
Estive acompanhada da minha filha Rubiah e da minha amiga carioca Adelaide Brasil. Lá encontrei sambistas que admirava à distância e que hoje se juntam, por força da ABAC na mesma história que ajudamos a construir, mesmo sem nos encontrarmos antes como Paulinho Mocidade, Carlinhos de Jesus, Aydano André, Kellymar Jesus Ferreira, Sol Montes, Orádia Porciúncula e a maravilhosa carnavalesca Maria Augusta. Honra maior foi abraçar os paulistas Odirley Isidoro e Solange Cruz, presidente da Mocidade Alegre, que estão nessa galeria, assim como meu querido Fernando Penteado, Embaixador do Samba Paulistano, compositor e um dos antigos componentes da Velha Guarda da Vai-Vai, que não esteve na festa mais foi festejado, inclusive com o samba-enredo Simplesmente Elis, do inesquecível carnaval de 2015.
A decoração da nova sede da ABAC é inspirada na montagem de um grande espetáculo carnavalesco, com cores, brilho e até fantasias. Nas paredes, transformada em galeria para os ilustres homenageados, foram fizadas mais de 100 fotos emolduradas de paetês. O salão, onde se formou a roda de samba, possui um pequeno palco e dá acesso para uma área onde estão expostas fantasias e uma bancada com máquinas de costuras e tecidos, representando os grandes artífices do carnaval e também as alas que compõem uma escola de samba. O legado da carnavalesca Rosa Magalhães, que morreu aos 77 anos em julho, logicamente foi celebrado. Ela é uma das imortais do samba reverenciada pela instituição.
Se hoje sou uma "notória eterna" da ABAC - Associação Brasileira de Artes Carnavalescas tenho muito a agradecer aos meus mestres e mestras, mas primeiramente aos meus pais Olivia Alexandre e Luiz Alexandre que desde a infância rechearam minha imaginação com sambas e sambas-enredos, permeados com a fé nos orixás e na força dos nossos ancestrais. Da sala onde tocava na vitrola todos os lançamentos de sambas e sambas-enredos, dos quintais onde sambávamos os finais de semana foram traçados meu caminnho na Comunicação Social, no Jornalismo e no Radio e TV, que teve as portas abertas pelo meu saudoso mestre, Evaristo Carvalho (1932-2014), o grande comandante da Rede Nacional do Samba (Radio Gazeta AM-105FM). Meu primeiro chefe no radio e a quem eu devo ter conhecido os grandes bambas e ter ingressado na profissão de radialista, pelo carnaval das escolas de samba, que é a minha grande paixão! Paixão que eu levei para a universidade, onde defendi na especialização e no mestrado em Ciência da Religião (PUC-SP), que escolas de samba e religiões afro-brasileira, mantém de forma indissociável dinâmicas que atestam as heranças negro-africanas por meio das redes de sociabilidade e solidariedade que continuam pulsando no carnaval brasileiro. Este tema é também explorado no meu livro Orixás no Terreiro Sagrado do Samba - Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai, onde também presto reverências à história da Escola de Samba Vai-Vai, uma das mais antigas e negras agremiações carnavalescas da cidade de São Paulo, que nasceu no negro bairro do Bixiga, guardando memórias do antigo Quilombo do Saracura. Memórias ameçadas com a demolição da sede da escola em 2021, para a construção da linha 6 Laranja, do metrô de São Paulo, um dos projetos mais absurdos de violência ao patrimônio cultural afro-brasileiro da maior metrópole do Brasil. Enfim, me sinto ainda mais atrelada a história do carnaval brasileiro, hoje como membra da Academia Brasileira de Artes Carnavalescas. Obrigada Milton Cunha e Celia Domingues, por me proporcionarem essa alegria em vida! Axé

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Sambista Imortal: Claudia Alexandre agora é "notória eterna" da Academia Brasileira de Artes Carnavalescas criada por Milton Cunha

“Nossa nova integrante é uma ponte entre o samba e as religiões afro-brasileiras, a grande Cláudia Alexandre”. É o que diz a Academia Brasileira de Artes Carnavalescas (Abac), criada pelo carnavalesco Milton Cunha, em seu perfil oficial no Instagram.
A homenageada é a jornalista, escritora e pesquisadora Cláudia Alexandre, que se destaca por seus estudos sobre a relação entre o samba e as religiões afro-brasileiras. Com formação em Comunicação Social e doutorado em Ciência da Religião, a pesquisadora também escreveu a obra “Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô”, que aponta a persistente demonização e masculinização do orixá Exu como um marco da crescente de intolerância às tradições das religiosidades afro-brasileiras. Integrante do carnaval paulistano, Cláudia Alexandre analisa a presença de elementos religiosos nas letras, nos ritos e nos símbolos das escolas de samba, com o intuito de revelar a importância das divindades africanas e dos orixás na construção da identidade do samba. “É com muita honra que recebo a nomeação de sambista imortal da Academia Brasileira de Artes Carnavalescas, criada pelo multi-carnavalesco Milton Cunha. Espero corresponder a esse reconhecimento e me uno aos outros ‘imortais paulistas’. Nosso Carnaval 2025 já será muito especial”, diz Cláudia.

Livro Exu-Mulher vence Prêmio Jabuti Acadêmico 2024 na categoria Ciências da Religião e Teologia

O livro Exu-Mulher e o matriarcado nagô, fruto da tese do Doutorado da jornalista Claudia Alexandre, foi o vencedor da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico 2024 na categoria Ciência da Religião e Teologia. Claudia é doutora em Ciência da Religião (PUC-SP) e pós-doutorando do curso de Antropologia da FFLCH/USP, sob supervisão do antropólogo prf. Dr. Vagner Gonçalves da Silva. A cerimônia foi realizada na última terça-feira (6/8), no Teatro Sérgio Cardoso e foi transmitida pelo Youtube da CBL. A tese foi defendida em 2021 no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da PUC-SP. O exemplar foi divulgado pela editora Fundamentos de Axé.
Segundo Claudia, sua pesquisa sobre masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés yorubá-nagô já havia sido considerada a melhor tese defendida no Pós em Ciência da Religião, no ano de 2021, e indicada para o Prêmio Soter de Teses de 2022." O tema é inédito para o estudos afro-brasileiros e propõe um novo olhar para as consequências da invasão colonial patriarcal na região yorubá, no Continente África. Foi o que despertou interesse da Editora Aruanda, que já havia publicado a minha dissertação de mestrado 'Orixás no Terreiro Sagrado do Samba (Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai)', defendia em 2017 e publicado em 2021, também na Ciência da Religião da PUC-SP.”. A autora destacou a importância do prêmio para uma mulher negra. “Ter vencido todas as etapas deste prêmio, que representa a partir de agora o principal reconhecimento literário da categoria no Brasil, é uma alegria enorme. Além da emoção que ele proporciona, no meu caso, enquanto uma mulher negra que estuda sobre religiões e tradições afro-brasileiras tem um significado ainda maior, pois é a representação pois é a representação de uma resistência no campo acadêmico, no religioso e no das relações étnico-raciais no Brasil. Sou uma voz em um lugar de disputa atravessada pelo racismo estrutural, sistêmico e religioso. Estudar Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô na Ciência da Religião tem a ver com as minhas vivências de terreiro, mas também com a importância da mudança de paradigmas da disciplina que deve urgentemente se voltar para as novas epistemologias que contemple saberes negros, indígenas, em especial de mulheres negras.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Casa Sincopada – Som & Saberes promove programação inaugural o “Bixiga é Nosso” um final de semana para celebrar o bairro histórico com bate-papo, roda de samba e exibição de filmes. Tudo grátis!

Espaço cultural inaugurado recentemente explora a vocação boêmia e cultural do bairro, oferecendo eventos de música brasileira, ao vivo, gastronomia e encontros de literatura e exposição, incluindo um roteiro especial para o público infantil. Neste final de semana da “independência”, no dia 7, promove roda de conversa com representantes do Mobiliza Saracura Vai-Vai; bate-papo literário com a jornalista Claudia Alexandre; roda de samba com Thobias da Vai-Vai e o som da DJ Evelyn Cristina. No domingo tem atividade infantil, exibição do documentário O Bixiga É nosso, de Rubens Crispim Jr e show do grupo Samba de Dandara. A Casa Sincopada – Som & Saberes, o mais novo espaço cultural do Bixiga, promoverá nos próximos dias 7 e 8 de setembro, a partir das 16h, uma programação especial com roda de conversa, bate-papo literário e samba ao vivo, celebrando as tradições e diversidade cultural do bairro. No sábado, 7, a partir das 16h, haverá roda de conversa com integrantes do movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai; um bate-papo literário e sessão de autógrafos com a jornalista e vencedora do Prêmio Jabuti Acadêmico, Claudia Alexandre, que falará sobre a obra premiada “Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô” e o livro que aborda sobre a religiosidade da Escola de Samba Vai-Vai, “Orixás no Terreiro Sagrado do Samba”. O show ficará por conta do cantor Thobias da Vai-Vai, seguido do som da DJ Evelyn Cristina. A casa abriu as portas em junho, com uma programação experimental e agora em definitivo passa a funcionar com opções de cultura e entretenimento de sexta-feira a domingo, das 16 às 23 horas.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

XV Seminário Tumba Junsara Redescobrindo sua história: Injila é o caminho em São Paulo

O centenário terreiro de candomblé Tumba Junsara, fundado no ano de 1919, na cidade de Salvador, na Bahia, por Manuel Ciríaco de Jesus (Tateto Neludiamungongo) realizou a décima quinta edição do evento que tem como objetivo reconhecer sua família extensa, representada por centenas de outros terreiros espalhados pelo Brasil. Liderado pela mametu Dya Nkise, Nengwa Mesoeji (Iraildes Maria da Cunha) realizou no dia 22 de junho, no auditório do Museu Afro Brasil (Parque do Ibirapuera), através da ABENTUMBA (Associação Beneficente de Manutenção e Defesa do Terreiro Tumba Junsara) o XV Seminário Tumba Junsara Redescobrindo sua história: Injila é o caminho. Foi a primeira vez que o evento foi realizado na cidade de São Paulo, a última edição ocorreu no Rio de Janeiro. . O evento contou com convidados especiais e certificação dos terreiros que reivindicaram filiação Tumba Junsara de São Paulo.  A abertura contou com as saudações do superintendente do IPHAN, Danilo de Barros Nunes e da representante do Núcleo Educativo do Museu Afro Brasil, Simélia de Araujo.   A mesa temática foi anunciada pelo Tata Nzambia Bandanguame (Nzo Maza Kisimbi Junsara), representante da comissão organizadora do evento, com:  Tata Nzingue Lumbondo (Diretor da Abentumba), que abordou o tema “‘ixi’ , uma reflexão sobre a divisão fundiária para as religiões de matrizes africanas”; Dra. Claudia Alexandre (Ebomi de Oxum, sacerdotisa do Templo da Liberdade Tupinambá) pesquisadora de cultura e religiosidades afro-brasileiras, com “Sofia Mavambo, o matriarcado e mpambu njila” e sobre a seu livro Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô...; Dra. Regina Barros Goulart (Kota Mulanji), “Projeto 1279 – Makota Valdina” e “Ancestralidade e o Fonsampotma”; Dr. Anivaldo dos Anjos (Idafro e JusRacial), “Legislação e proteção em casos de racismo religioso” e   Tata José Ricardo da Cruz Vaz,do Abassa Dianganga Njila Mavile, que falou sobre Encruzilhadas (Njila).
. Cientista da Religião, Claudia Alexandre, comentou a importância do Seminário Tumba Junsara, Redescobrindo sua história, para a tradição congo-angola no Brasil . Por muito tempo a contribuição e riqueza dos povos centro-africanos, do chamado grupo bantu, foi subestimado pelos estudos afro-brasileiros, principalmente suas práticas tradicionais, de onde originaram a partir do século XVI-XVII batuques, zungus, calundus, cabulas, capoeiras, sambas, jongos e, em especial, os candomblés Angola-Congo, no nordeste, com registros no final sec XVIII e os cultos das macumbas e omolocô, cujos traços negro-africanos se mantiveram na constituição da Umbanda no sudeste no sec. XIX, se manifestando em sua complexidade por varias partes do Brasil, apesar das violências simbólicas e do racismo sistêmico.  . Bantu não é etnia, é um grupo linguístico forjado pela colonização europeia. Por isso a deturpação nas narrativas que desconhecem a diversidade étnica: saberes, falares, costumes e religiosidade deste grupo, que têm suas heranças como matriz dos candomblés congo-angola.  . No processo escravista os ciclos econômicos são registros da chegada do grupo ioruba-oyó (sudaneses), somente a partir do século XVIII, com outra riquezas de diversas culturas, costumes, práticas rituais e relações com o sistema de dominação, entre eles a formação dos candomblés do complexo yorubá-nagô. .  São riquezas e ressignificações de um legado civilizatorio que é resultado de lutas, resistências, dores, mortes, violências e negociações, que emergiram da Diáspora negra. Da elaboração, tecnologia, inteligência e energia vital de nossos ancestrais africanos, aqui no BRASIL, por isso matriz africana. Sem esquecer dos entrelaçamentos de saberes com os povos indígenas, os negros, donos da terra.  . Foi uma honra falar de Injila, resgatar a memória de dona Sofia Mavambu, sobre meu livro Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô: sobre masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés, que passa pelas práticas dos grupos bantu, além de ouvir a sabedoria dos mais velhos e a potência do XVI Seminário Tumba Junssara Redescobrindo sua História Terreiro Tumba Junsara Nguzu!

sábado, 6 de julho de 2024

Marcha Noturna pela Democracia Racial é o segundo episódio da web série Liberdade ou Morte...

Com narrativas antirracistas sobre a história social da cidade de São Paulo, a web série “Liberdade ou Morte: histórias que a história não conta”, projeto realizado pelo Instituto Tebas de Educação e Cultura, lançará no próximo dia 12 de julho, o segundo episódio com o título Marcha Noturna pela Democracia. A programação terá início às 18h, com concentração na Praça Antônio Prado (Centro) com caminhada até à sede do Sindicato dos Bancários (Rua São Bento, 413 – Edifício Martinelli), onde às 19 horas haverá leitura de crônicas, fruição do ensaio fotográfico, seguidos de exibição do documentário e debate sobre o tema.
O episódio narra a 26ª. Edição da marcha, um dos marcos do protesto negro no Brasil contemporâneo, realizada anualmente na cidade de São Paulo, desde 1997. Em meio ao percurso da Marcha Noturna pela Democracia, permeado por falas do escritor Abílio Ferreira e por canções puxadas pelo Jongo dos Guainás, Abou N’Gazy Sidibé, Júlio Cézar e Cinthia Gomes, brotam significados deste evento histórico por meio de depoimentos de protagonistas da marcha como Padre Enes de Jesus, Gilson Negão e do saudoso Flávio Jorge. As narrativas – visuais, fotográficas e textuais – desta edição retrata o movimento que nasceu em dia 13 de maio de 1997, quando pessoas saiam às ruas em silêncio, vestidas de preto com tarjas brancas, segurando velas acesas, protestando contra a celebração do 13 de maio e reivindicando o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, como o feriado da Consciência Negra. A web série Liberdade ou Morte: histórias que a história não conta é composta por sete episódios e foi lançado dia 21 de junho, data de nascimento do abolicionista negro, Luiz Gama, com o episódio Caminhada Luiz Gama Imortal. Os próximos títulos serão: Cerco Indígena a Piratininga; Cortejo em Memória de Chaguinhas; Marcha das Mulheres Negras; Marcha do Dia da Consciência Negra e Movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai. Todos os vídeos estarão disponíveis no site: www.institutotebas.org.br Ficha Técnica Episódio 2 – Marcha Noturna Pela Democracia Racial (2021, 27’, cor, 1080p) Direção, roteiro, edição e finalização: Alexandre Kishimoto Câmera: Caio Castor, João Leoci e Alexandre Kishimoto Som: Vera Longo Identidade visual: mercurio.studio Motion graphics: Marcela Banduk Composição e concepção da trilha sonora original: Aloysio Letra Direção musical: Aloysio Letra e Ravi Landim Arranjos: Ravi Landim Edição: Ravi Landim e DJ Negrito Música: Tiririca no Saracura (compositor: Aloysio Letra) Intérpretes: Voz principal - Luana Bayô Percussão - Edvan Mota Violão de 6 cordas - Ravi Landim Violão de 7 cordas - Helô Ferreira Clarinete - Laura Santos Backing vocals - Aloysio Letra, Ravi Landim e Helô Ferreira Mixagem e Masterização: DJ Negrito Técnicos de som: Edvan Mota e DJ Negrito Coordenação Geral: Abilio Ferreira Produção Executiva: Vera Longo, Abilio Ferreira e Alexandre Kishimoto Narrativas Textuais: Abilio Ferreira Narrativas Fotográficas: João Leoci Designer Gráfico: Danilo de Paulo Webdesigner: Beatriz Oliveira Assessoria de Imprensa: Central de Comunicação - Claudia Alexandre e Camila Gonçalves Assessoria Jurídica: Shigueo Kuwahara Uma produção: Esquisito Filmes Realização: Instituto Tebas de Educação e Cultura Apoio: Mandato da vereadora Luana Alves “São Paulo, Farol de Combate ao Racismo Estrutural” (Secretaria Municipal de Relações Internacionais).

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Caminhada Luiz Gama Imortal será o primeiro episódio da web série Liberdade ou morte: histórias que a história não conta com lançamento no dia 21 de junho em SP

Liberdade ou Morte: histórias que a História não conta é o título da web série composta por sete narrativas (fotográficas, textuais e audiovisuais) que destacam a agência indígena e negra em territórios paulistanos considerados representativos das contradições do projeto de nação forjado a partir da Proclamação da Independência do Brasil. O lançamento, que conta com apoio da Cojira-SP (Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial) será no dia 21 de junho, às 19 horas, no auditório do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo (Rua Rego Freitas, 530, Vila Buarque), onde haverá a exibição da primeira narrativa, que tem como título “Caminhada Luiz Gama Imortal”, celebrando os 194 anos de nascimento do escritor, jornalista e advogado abolicionista negro, nascido em 21/6/1830. A programação terá início às 18 horas, com concentração e ato público em frente ao busto do homenageado, no Largo do Arouche, seguido de um cortejo em direção à sede do sindicato. Organizados pelo Instituto Tebas de Educação e Cultura, cada um dos sete episódios da web série é constituído de duas obras artísticas: um ensaio de imagens do fotógrafo João Leoci, combinado com uma crônica de autoria do escritor Abilio Ferreira; e um audiovisual dirigido pelo antropólogo e documentarista Alexandre Kishimoto. O enredo tem como referência crítica as programações do bicentenário da independência comemorado em 2022, razão pela qual reúne documentos, imagens, textos e depoimentos de representantes de movimentos sociais organizados e atividades que mostram outra realidade, diferente da versão oficial. Os outros seis títulos são os seguintes: Marcha Noturna Pela Democracia Racial; Marcha das Mulheres Negras; Cerco de Piratininga; Marcha da Consciência Negra; Chaguinhas, o santo negro da Liberdade e Saracura Vai-Vai. Todos os episódios, a começar pelo lançamento do dia 21 de junho, estarão disponíveis no site www.institutotebas.org.br ao longo do segundo semestre deste ano, em datas que serão oportunamente divulgadas. “Lançamos mão dessa variedade de linguagens – vídeo, música, design, foto, texto – na tentativa de dar conta da maneira como a agenda do movimento antirracista paulistano dialoga com o processo histórico de interpretação do Brasil, tendo como marco referencial a narrativa do grito do Ipiranga, que teria ocorrido no dia 7 de setembro de 1822. As peculiaridades dessas linguagens se articularão mediadas por um conteúdo comum que é a agenda mencionada. Entretanto, caberá à narrativa textual explicar as relações existentes entre essa agenda e os acontecimentos ocorridos ao longo de dois séculos de fundação desse projeto brasileiro de nação”, disse Abílio Ferreira.
Para os autores a proposta principal é dar acesso às pessoas a um conjunto de informações que relacionam as ideias e os lugares, através da vocação educadora do movimento negro brasileiro, como um produtor de saberes emancipatórios e sistematizador de conhecimentos sobre a questão racial no Brasil, seguindo o pensamento da ativista e educadora Nilma Lino Gomes. O projeto é financiado por uma emenda parlamentar da vereadora Luana Alves (PSOL/SP) e executada pelo Farol Antirracista, política pública da Secretaria Municipal de Relações Internacionais (SMRI) de São Paulo. Liberdade ou Morte: histórias que a História não conta descreve uma agenda de lutas que, desenvolvida entre os meses de maio e novembro da nossa contemporaneidade, reelabora, no presente, a longa história popular de resistência contracolonial e antirracista. A expressão “Liberdade ou Morte” remete ao lema da Revolução do Haiti (1791-1804), numa interpretação crítica do projeto de nação veiculado pelo grito do Ipiranga (Independência ou Morte), cujo bicentenário foi comemorado em 2022, em plena retomada das mobilizações coletivas pós-pandemia. Já o subtítulo “histórias que a História não conta” lembra um dos versos do emblemático samba-enredo da Mangueira História para ninar gente grande, campeã do carnaval carioca de 2019. Luiz Gama Imortal A primeira narrativa Caminhada Luiz Gama Imortal narra a celebração da memória do escritor, jornalista, advogado, líder abolicionista e republicano nascido no dia 21 de junho de 1830. Para se ter ideia do prestígio de Gama, ainda na São Paulo escravista do século XIX, basta lembrar que o seu funeral, realizado no dia 25 de agosto de 1882, mobilizou cerca de três mil pessoas (10% da população paulistana de então) de diferentes segmentos sociais e econômicos, que fizeram a pé todo o percurso de seis quilômetros, do bairro do Brás, onde ele morava, até o Cemitério da Consolação. Criou-se, a partir desse momento, uma tradição de caminhadas regulares que, atravessando os últimos 144 anos, acaba por projetar a figura de Luiz Gama para a eternidade.
A palavra “progresso”, que aparece na inscrição do pedestal, na foto, é o nome do jornal editado a partir de 1928, por integrantes do Movimento Negro jornalístico, literário e carnavalesco de São Paulo, com o objetivo de arrecadar recursos para confeccionar um busto em celebração do centenário de nascimento de Gama. O monumento foi instalado no Largo do Arouche, em novembro de 1931, com quase um ano e meio de atraso em relação à meta de 21 de junho de 1930, mas com grande mobilização da sociedade paulistana e ampla cobertura da imprensa. Quase nove décadas depois, no dia 17 de maio de 2018, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), órgão do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, reconheceu Luiz Gama, oficialmente, como um integrante da categoria. Já o nome da rua onde fica o Sindicato, e que liga a Igreja da Consolação ao Largo do Arouche, refere-se ao juiz municipal Antônio Pinto do Rego Freitas (1835-1886), que, como representante da elite política e econômica do Brasil imperial e escravocrata, era um dos principais adversários do projeto de Luiz Gama, que previa um país republicano e livre da escravidão. A Caminhada No dia 21 de junho de 1991, quase 60 anos depois da intervenção jornalístico-literária que invadira o Largo do Arouche pela primeira vez, um grupo de escritores ligados ao movimento da Literatura Negra Brasileira criou o projeto Rhumor Negro, para celebrar, em caminhadas anuais entre o Largo do Arouche e o Cemitério da Consolação, acompanhadas de declamação de poemas, a ousadia da poesia e do jornalismo satíricos de Luiz Gama, autor do livro Primeiras trovas burlescas de Getulino (1859), e criador, em 1864, junto com o desenhista italiano Ângelo Agostini, do Diabo Coxo, primeiro jornal humorístico ilustrado da história da imprensa paulistana. Autores de “Liberdade ou Morte: Histórias que a História não conta” Abilio Ferreira Autor de Fogo do olhar (Quilombhoje/Mazza, 1989) e Antes do carnaval (Selinunte, 1995), está entre os escritores cuja produção é estudada na antologia crítica Literatura e afro-descendência no Brasil (UFMG, 2011). É coautor e organizador de Tebas: um negro arquiteto na São Paulo escravocrata (2018) e coordenador de Relações Institucionais do Instituto Tebas.
ALEXANDRE KISHIMOTO - Antropólogo e documentarista, autor do livro Cinema japonês na Liberdade (Estação Liberdade, 2013), doutorando do Programa de Planejamento e Gestão Territorial da UFABC e coordenador de Documentação Fotográfica e Audiovisual do Instituto Tebas.
JOÃO LEOCI - Trabalha com fotografia comercial e editorial há 15 anos. Fotografa há seis anos no território da Cracolândia, a partir de onde tem colocado o seu olhar a serviço da manutenção da memória coletiva e individual, assim como do ideal dos direitos humanos. É associado do instituto Tebas desde a sua fundação. Assessoria de Imprensa Central de Comunicação – centraldecomunicacao@gmail.com

sábado, 13 de janeiro de 2024

Livro Exu-Mulher e o Matriarcado de Claudia Alexandre aborda sobre masculinização e demonização de Exu

O novo livro da jornalista Claudia Alexandre, Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô: sobre masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés (Editora Aruanda/Fundamentos de Axé, 2023), insere um debate inédito no campo dos estudos sobre as tradições e religiosidades afro-brasileiras em relação ao que foi escrito até aqui sobre o controverso orixá Exu. Ao mesmo tempo insere registros e informações sobre as experiências de mulheres negras – africanas, escravizadas, alforriadas, libertas, que resistiram as opressões patriarcais para manter suas práticas ancestrais, apesar das violências do sistema escravista e no pós-abolição. Uma das alterações está na relação com o orixá Exu, que na iorubalândia tem representações femininas, que foram silenciadas nos primeiros terreiros no Brasil. Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô tem prefácio assinado pela professora e ativista Dra. Núbia Regina Nogueira e é baseada na tese de doutorado, defendida em novembro de 2021, eleita a Melhor Tese do Ano, pelo Programa de Ciência da Religião da PUC-SP. Foi finalista e segunda colocada do Prêmio SOTER/Paulinas de Teses (Prêmio Prof. Afonso Maria Ligório Soares) edição 2022, do Congresso Internacional da Soter (Sociedade de Teologia e Ciência da Religião). Mesmo ano em que lançou o livro-dissertação “Orixás no Terreiro Sagrado do Samba: Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai”, também pela Editora Aruanda/Fundamentos de Axé. O racismo religioso como uma das opressões sociais ganha centralidade com a figura de Exu e reivindica o lado feminino do orixá, algo ainda pouco explorado na literatura sobre a formação dos candomblés de tradição yorubá-nagô, cujos terreiros que cultuam Exu-Legba-Elegbara se autodenominam de nações ketu, jejê ou nagô. Em algumas localidades da África Ocidental são bem conhecidas as representações de Exu como um orixá ambíguo, que pode se apresentar como feminino e masculino, bem diferente da forma como foi introduzido nos terreiros do Brasil.
A PESQUISA - Na capital Salvador a autora percorreu os três terreiros fundantes, que ainda mantém o sistema matriarcal: Casa Branca do Engenho Vellho, Ilê Opó Afonjá e Terreiro do Gantois. O resultado foi a constatação de que, apesar da liderança das mulheres, houve tensões na relação com o orixá Exu, o que exigiu dissimulações e negociações por parte das poderosas iyalorixás,, em relação à dominação da Igreja Católica. A masculinização e a demonização foram as principais transformações que Exu sofreu na travessia atlântica. Uma busca motivada por registros de que em África, região da iorubalândia, alguns grupos realizam práticas rituais específicas onde figuras de Exu – masculina e feminina - evidenciam as diferenças anatômicas do par: ele com seu falo desproporcional, apito e gorro, e ela com seios e vulva demarcados e à mostra, jóias e, às vezes, acompanhada de outra figura que remete a uma criança. As imagens apresentam penteados alongados, uma marca da identidade do orixá. Em alguns lugares Exu é cultuado por famílias inteiras e por mulheres, onde está associado não apenas à fertilidade, como à fecundidade e à maternidade. Existem cultos exclusivos a essa divindade, onde se encontram representações femininas, nas regiões yorubá de Egbado, Igbomina, Ibraba, Olobo e Oshogbo. A autora debate sobre questões da hieraquia de gênero e as mulheres de terreiros, apontando como religiões de matrizes africanas foram atravessadas pela matriz de dominação patriarcal. Para as primeiras lideranças o Exu demonizado se transformou em um elemento demonizante. O destaque dado ao falo na representação da divindade na diáspora negra, como símbolo de sua masculinidade, teria excluído completamente os traços de feminilidade. Na cosmogonia iorubá Olodumaré, o Deus supremo teria lhe constituído com os princípios masculino e feminino, dando-lhe controle sobre eles, um poder que não foi concedido a nenhuma outra divindade. Exu é dono do movimento, que mantém o equilíbrio vital e distribui em partes iguais o essencial aos seres viventes, para que haja fertilidade e vida constante dos seus cultuadores. Ao analisar a definição do papel da mulher como autoridade máxima nos terreiros de candomblé, bem como o trato com Exu e sua masculinidade demonizada, principalmente entre os séculos XIX-XX, a autora destaca uma série de aproximações e rejeições dentro da própria comunidade de axé. "Sabe-se que no início havia resistência, por parte de antigas lideranças, em iniciar “filhos” e “filhas” deste orixá, ocorrendo muitos casos de troca pelo orixá Ogum, o grande guerreiro dos metais. As justificativas para tal barganha acabavam por reforçar o imaginário demoníaco imposto à divindade. Esses constrangimentos podem ter levado ao ocultamento e o silenciamento sobre qualquer assunto referente a existência do feminino de Exu", disse Claudia. Chama atenção o fato de a figura feminina de Exu, além de não ter sido introduzida nas representações do orixá nos candomblés nagôs no Brasil, ser desconhecida em algumas casas de culto e um assunto mantido em silêncio nos terreiros mais tradicionais. No livro estão disponíveis imagens e representações da figura feminina de Exu, evidenciando que a diáspora negra ainda mantém muitos fragmentos de violências que alteraram a relação do povo negro com seus sistemas de crenças e com a cosmologia africana. FICHA TÉCNICA - Título: Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô: sobre masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés Editora: Editora Aruanda/Selo Fundamentos de Axé - RJ Ano: 2023 Autora: Claudia Alexandre (Instagram: @claualex16) Prefácio: Nubia Regina Nogueira Coordenação Editoral: Aline Martins Capa: Amanara Páginas: 464 ISBN: 978-65-97708-19-5 Contato/vendas: www.editoraaruanda.com.br